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Foto do escritorLucas Tesch

Agenda ESG: um novo paradigma na atuação das grandes empresas



A Agenda ESG (Environmental, Social and Governance) é o compromisso firmado por uma empresa de colocar em prática ações positivas nos cunhos ambiental, social e de governança corporativa. O comprometimento com tais práticas se tornou um dos principais tópicos de discussão no meio corporativo desde que o conceito foi introduzido no mercado. 


Entretanto, a partir dos últimos anos, a discussão ganhou novos contornos, uma vez que o antigo conceito de avaliar quanto se deveria investir minimamente em políticas de governança para acatar as demandas de stakeholders¹ já se mostra obsoleto. Nesse sentido, essa agenda tem ganhado cada vez mais notoriedade entre as empresas, por não só incentivar a adequação às políticas ambientais, mas também por contribuir com uma melhora da eficiência de suas operações, favorecendo um aumento da rentabilidade dos negócios.


Impactos da agenda ESG


A principal motivação para a maior aceitação das práticas ESG por parte das empresas foi a identificação do potencial destas políticas de gerarem valor a longo prazo para aquelas que se comprometessem a impactar a sociedade de forma positiva. Assim, classificam-se esses benefícios em 5 principais pilares:



  1. Geração de receita a partir de suas operações: companhias que atendem a recomendações de seguir práticas ESGs tem maior facilidade para gerar relações sustentáveis com clientes e parceiros, criando oportunidades de geração de receita, a partir de produtos com um maior valor agregado e uma base de clientes mais fidelizada. Por exemplo, a Unilever, multinacional voltada para a comercialização de bens de consumo, desenvolveu uma nova marca de produtos de limpeza, a Sunlight, que tinha como objetivo utilizar menos água em lavagens que outros produtos disponibilizados pelos concorrentes. Logo o produto foi abraçado por mercados onde a água era escassa, impulsionando tanto as vendas da linha quanto as da Unilever, superando em 20% a venda de outras marcas do ramo.

  2. Redução de custos: mesmo exigindo um certo investimento inicial, práticas ESG são capazes de reduzir custos operacionais no processo produtivo. Por exemplo, a 3M, grupo econômico multinacional voltado para a tecnologia, lançou, em 1975, um programa conhecido como 3P's - Pollution Prevention Pays -, com o objetivo de criar um ambiente de liberdade para que qualquer funcionário da empresa pudesse iniciar projetos relacionados à prevenção da poluição na cadeia produtiva. Como resultado, estima-se que mais de 2,6 milhões de toneladas de produtos poluentes foram evitadas, economizando mais de 2,37 bilhões de dólares em custos operacionais em toda a duração do projeto até o momento.

  3. Redução de riscos regulatórios: operações que seguem políticas de sustentabilidade também diminuem a vulnerabilidade a sanções e multas governamentais, tornando-as menos suscetíveis a grandes variações de valorização devido à escândalos midiáticos e caracterizando-as como um investimento mais seguro a longo prazo.

  4. Aumento de produtividade: a criação de ambientes positivos de trabalho também é capaz de aumentar a capacidade da empresa de reter talentos e motivá-los a longo prazo. Estudos conduzidos pela consultoria McKinsey & Company apontaram que a rotatividade de profissionais pode impactar o resultado de companhias em até 15%, demonstrando a importância de práticas de governança interna.

  5. Otimização de ativos: praticar ações relacionadas a ESG também permite que a companhia entenda como pode priorizar investimentos em processos que se manterão relevantes a longo prazo independentemente de problemas ambientais ou políticas mais restritivas quanto a utilização de recursos. Por exemplo, a multinacional brasileira Gerdau se protege de possíveis exigências governamentais futuras ao reciclar a sucata gerada em seu ciclo produtivo de volta em aço, fazendo com que ele retorne à sociedade civil de forma eficiente. 


A junção destes 5 pilares resulta em, acima de tudo, uma empresa com vantagens competitivas claras a longo prazo. Por isso, é possível identificar uma tendência de investidores a buscarem por práticas ESG em seus negócios como forma de mitigar riscos, por entenderem que estas empresas possuem uma base operacional sólida, menor suscetibilidade a crises e maior capacidade de gerar oportunidades de receita.


Experiências em práticas ESG


Recentemente, como resultado do crescimento desta tendência, a maioria das grandes corporações mundiais já vem direcionando esforços para a adoção dessas novas políticas em suas operações, com o objetivo de cumprir pautas ESG. Alguns exemplos notáveis são:


  • Microsoft


A Microsoft se tornou referência mundial na adoção de políticas ESG em diferentes âmbitos de sua operação, abrangendo diversos pilares e gerando valor para stakeholders¹, a partir de diferentes frentes, sendo algumas delas:


  • Ambiental (E): operações na cadeia produtiva utilizam fontes de energia 100% renováveis desde 2014, o que garantiu à empresa um lugar na A-list² da Carbon Disclosure Project, organização que mobiliza esforços para um desenvolvimento sustentável para atuais e futuras gerações.


  • Social (S): 81% dos funcionários têm uma perspectiva positiva para a empresa, 86% recomendam trabalhar lá e 96% aprovam o CEO. Como consequência dessas políticas, o clima organizacional teve uma melhora significativa, deixando o ambiente de trabalho mais produtivo.


  • Governança corporativa (G): acionistas têm direitos amplos, um conselho transparente com eleições anuais e acesso por procuração que permite aos sócios minoritários elegíveis indicarem candidatos para o conselho.


O conjunto destas políticas resultam em uma companhia de destaque em ESG ratings³ e políticas de sustentabilidade, propagando uma imagem positiva aos olhos dos stakeholders¹ em questão, que cada vez mais priorizam essas ações. Como consequência, a Microsoft conseguiu manter investimentos constantes nessa área, fortalecendo suas vantagens competitivas por meio da confiança de acionistas em sua estabilidade.


  • Tesla 


A Tesla é marcada pelo envolvimento em diversos escândalos relacionados à negligência à pauta ESG. Em 2022, por exemplo, as ações da empresa foram retiradas da S&P 500 ESG Index, índice voltado para companhias que cumprem requisitos mínimos de ESG ratings³. A expulsão ocorreu devido às acusações de práticas de discriminação racial e más condições de trabalho em uma de suas fábricas, além da falta de estratégias para a redução da emissão de carbono.


As polêmicas envolvendo a grande fabricante de carros elétricos geraram significativas sanções, entre elas, uma multa de 20 milhões de dólares após o presidente da companhia, Elon Musk, fazer pronunciamentos falsos e ilusórios para investidores, gerando um período de volatilidade nas ações da empresa. Além da penalidade, Musk teve que abandonar temporariamente seu cargo, contribuindo para a já existente instabilidade na companhia.


Portanto, é notório que a não adoção das práticas contribui diretamente para a instabilidade das ações de companhias, aumentando o risco de escândalos e, consequentemente, transmitindo maior desconfiança para investidores e consumidores.


Desafios para o investimento


Os últimos anos foram marcados pelo destaque de ações com carimbo ESG na bolsa, cenário identificado por meio da maior valorização do índice S&P 500 ESG, em relação ao seu equivalente. A valorização representa o convencimento de investidores em relação a vantagens a longo prazo das práticas ESG que tomam conta do mercado. Entretanto, embora sejam suportadas por modelos teóricos, a performance de ativos de empresas que seguem a agenda ainda não são comprovadamente mais rentáveis como se especula. Dúvidas sobre rentabilidade operacional ainda tomam conta de alguns gestores de grandes corporações, que teorizam o movimento como uma "onda temporária". 


O principal obstáculo para o desenvolvimento de análises precisas que comprovem a efetividade da agenda se deve a dois fatores:


  1. Espaço amostral curto: por se tratarem de políticas que entregam resultados a longo prazo e que estão relacionados a um fenômeno de crescimento recente, podemos afirmar que o verdadeiro potencial de operações condizentes com práticas ESG ainda não foi efetivamente explorado pelo mercado.


  1. Ausência de métricas para estudos: no contexto atual, não existe um órgão regulatório que identifique o que realmente é uma companhia ESG, o que torna a categorização complicada e imprecisa. Nesse sentido, a captação de dados a respeito deste mercado é dificultada, o que possibilita que companhias se portem como adeptas dessa agenda, visando uma autopromoção sem que de fato sigam um mínimo de requisitos para isso. Além disso, filtros como o da S&P 500 ESG ainda são amplamente contestados devido a critérios pouco claros, possibilitando a prática conhecida como greenwashing.


Neste contexto, surgem formas de se avaliar os níveis de adequação de grandes corporações à agenda, chamados de "ESG Scores", com intuito de metrificar essas atividades. No entanto, ainda não existe um modelo consolidado que permita a universalização das análises por meio de uma maior transparência operacional.


Expectativas


Em um cenário geral, as grandes lideranças do mercado ainda estão em estágio de compreensão e metrificação de impactos de grandes movimentos ESG, agora cada vez mais pressionados por exigências de clientes e investidores. O crescimento da demanda por ações confiáveis indica uma maior profissionalização da caracterização de critérios ESG como forma de amparar os stakeholders¹ envolvidos e alavancar o crescimento do setor.


Nesse sentido, as projeções para o mercado de investimentos em ações ESG são extremamente otimistas, considerando crescimentos que superam qualquer outro tipo de índice. É esperado que os AuM⁴ relacionados a ESG de investidores cheguem a 39 trilhões de dólares até 2026, representando um aumento de mais de 84% em relação a 2021. Essa expectativa criou o principal desafio da Agenda para os próximos anos: a responsabilidade de atingir as demandas de seus investidores. 


Glossário


  1. Stakeholderspessoas que são impactadas pelas ações relativas ao contexto em que estão inseridas

  2. A-listlista de indivíduos de alto nível social, excelência ou poder

  3. ESG ratings: avaliação objetiva do cumprimento de ações relacionadas à agenda ESG

  4. AuM: Assets Under Management, valor de mercado total acumulado por um investidor


Referências


  1. COMPARING Risk and Performance for Absolute and Relative ESG Scores: An Empirical Analysis Using MSCI ESG Scores. [S. l.]: MSCI ESG Research LLC, 2020. 24 p. Disponível em: https://www.msci.com/documents/10199/a645d4ff-b83e-426a-4636-e6fb81bbc599 Acesso em: 8 abr. 2024


  1. HENISZ, Witold; KOLLER, Tim; NUTTALL, Robin. Five ways that ESG creates value. McKinsey Quarterly: McKinsey, 2019. 12 p. Disponível em: https://www.mckinsey.com/~/media/McKinsey/Business%20Functions/Strategy%20and%20Corporate%20Finance/Our%20Insights/Five%20ways%20that%20ESG%20creates%20value/Five-ways-that-ESG-creates-value.ashx Acesso em: 8 abr. 2024.



  1. ADEN. ESG is changing how businesses approach sustainability. In: ESG is changing how businesses approach sustainability. Disponível em: https://www.adenservices.com/en/blogs/esg-business-sustainability/#:~:text=Successful%20ESG%20implementation%20should%20start,double%20reporting%20or%20misaligned%20reporting Acesso em: 8 abr. 2024.


  1. Q.AI. Tesla Is Being Booted From The ESG Index. Forbes Money, [s. l.], 20 maio 2022. Disponível em: https://www.forbes.com/sites/qai/2022/05/20/tesla-is-being-booted-from-the-esg-index/?sh=20adeb7d25d6 Acesso em: 8 abr. 2024.


  1. MICROSOFT ESG rating: From tech giant to sustainability leader. [S. l.], 23 jun. 2023. Disponível em: https://permutable.ai/microsoft-esg-rating-tech-giant-sustainability/ Acesso em: 8 abr. 2024.

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