Os lançamentos das novas gerações de smartphones, como Iphone 12, Samsung S20 e Note 20, vieram acompanhados de uma aposta no marketing das empresas voltada para a capacidade de suportar o tão esperado 5G. Porém, por trás dessa inovação da velocidade 5G rondam muitas polêmicas, como a guerra tecnológica entre os Estados Unidos e China ou a suspeita da inovação causar efeitos danosos a saúde de seus usuários, devido às frequências utilizadas que são suspeitas de poderem modificar o organismo humano. Todos esses pontos contrários a implementação da inovação, têm posto a nova geração da rede de celular entre os assuntos mais comentados de 2020. Com isso, muitos podem se questionar a respeito de qual seria a diferença dessa geração para as anteriores? Qual o impacto dessas polêmicas sobre essa tecnologia? Seria esse avanço uma realidade da qual esses produtos poderão usufruir agora de fato?
Por trás da tecnologia
Analisando sua origem, a tecnologia de transmissão de dados sem fio surgiu visando facilitar a comunicação durante a Segunda Guerra Mundial. Apesar de ter sido criada com uma finalidade bem específica, ao longo dos anos ela se transformou em um produto comercial que ganhou alta relevância pelo poder de conectar lugares distantes sem precisar de nenhum cabo ou estrutura. Ela foi evoluindo cada vez mais, aumentando a sua capacidade de transmitir dados e a velocidade com que isso ocorre, chegando, agora, em sua quinta geração.
Tal tecnologia, sucessora do 4G e do antigo 3G. Esse último representou uma enorme disrupção no mercado quando lançado em 2000, já que possibilitou a navegação na web via smartphones. Utilizando-se de ondas com frequências ainda maiores, as novas tecnologias tecnologia de transmissão de dados torna-se capaz atingir velocidades de download e upload nunca antes vistas no mercado. Portanto, um usuário torna-se capaz de realizar acessos quase que instantâneos a diversos conteúdos, os quais antes eram limitados a uma conexão via cabo ou a um wifi de alta qualidade. Um filme como Vingadores Ultimato, por exemplo, com alta resolução seria baixado em 1 minuto e meio no 5G, enquanto via 4G demoraria mais de 1 hora e meia.
Possíveis aplicações
Por ser uma tecnologia muito longe da realidade atual, devido à falta de estrutura, acaba sendo difícil enxergar possíveis aplicações. No entanto, o 5G abre muitas portas para tecnologias que serão extremamente impactantes e revolucionárias para a sociedade no futuro, como, por exemplo, a IoT (Internet of Things), quem tem expectativas de triplicar seu uso já em 2023.
O conceito consiste no ideal de interligar objetos e automatizar suas funções, a partir da sua conexão à internet (WI-FI ou 5G). Assim, objetos ordinários tornam-se “inteligentes” e conseguem, ligados a outros meios tecnológicos, facilitar a vida de seu usuário a partir de funcionalidades antes não exploradas. Isso tem grande impacto no cotidiano das pessoas, mas principalmente nas grandes indústrias. Em uso casual, a IoT pode ajudar as pessoas a reduzirem a conta de luz , por meio, por exemplo, do desligamento automático dos objetos elétricos, da criação de rotinas da casa, sensores ou até mesmo localização do telefone do usuário. Além disso, pode até mesmo ajudar no cuidado da saúde, criando ambientes ideais em casa e recomendando rotinas e dietas baseadas no seu comportamento.
No entanto, é importante também enxergar as suas aplicações na economia. Nesse cenário, a IoT pode ajudar a potencializar a eficiência das fábricas, com melhor e mais rápido controle de Big Data e expansão da utilização de robôs no meio de produção, como feito pela Amazon, com seus robôs interligados que controlam o estoque de parte de seus centros de distribuição. Isso permite interligar de forma instantânea toda a cadeia de valor, repassando quaisquer variações na demanda para a operação em milissegundos, facilitando, assim, o controle de estoque, produção e até mesmo de preço como nunca visto antes. Com todo esse avanço, é estimado, segundo a IHS Markit - provedora de informações britânica mundialmente reconhecida -, que, até 2035, a cadeia de valor 5G por si só aumentará em US$3,5 trilhões produção econômica mundial e suportará 22 milhões de empregos. Por isso, países como os Estados Unidos e a China estão competindo e investindo massivamente - um total de US $1,2 trilhão e US $1,1 trilhão respectivamente - nessa tecnologia para dominá-la e possivelmente comercializá-la para outros países.
Além dessa, outra facilidade gerada por essa tecnologia é o controle à distância com maior precisão de qualquer objeto ligado à internet e taxas mínimas de latência (tempo de resposta), em qualquer lugar do mundo. Isso facilita a atuação de especialistas em diversas áreas, como a medicina robótica, já que eles não precisarão se encontrar em algum lugar específico para realizar uma cirurgia de alta precisão: basta a utilização de um aparelho compatível com a máquina e conectado a uma rede 5G de qualidade. No meio industrial, por exemplo, esse avanço pode ser usado para realizar alterações na produção global de uma empresa a partir de um escritório principal, facilitando e agilizando, dessa forma, mudanças nas empresas.
Por fim, um outro uso dessa tecnologia com a capacidade de revolucionar a forma como vivemos é a utilização de carros autônomos, como os modelos da empresa Tesla. Usufruindo da baixa latência - baixo tempo de resposta - e da imensa quantidade de dados da rede 5G, esses carros poderão conversar entre si e traçar a rota mais eficiente, levando em conta não só o destino de seu passageiro, mas de todos os outros que estão ao seu redor. Dessa forma, muito provavelmente esse será o fim dos engarrafamentos e uma revolução no meio de locomoção moderno.
Essas são apenas as mais atrativas atividades que conhecemos até o momento que o 5G possibilitará. No entanto, definitivamente já existem outras em desenvolvimento e algumas que ainda nem chegaram a ser descobertas. Algo que suporta isso é a previsão, realizada pela Dell Technologies, em parceria com o Institute For the Future (IFTF), na qual é avaliado que 85% das profissões de 2030 ainda não existem. Sendo assim, ainda há muito espaço para ser explorado pela tecnologia 5G. O gráfico a seguir busca demonstrar representar algumas outras possibilidades futuristas do uso do 5G.
Por que ainda não é uma realidade?
Nos últimos anos, grandes empresas como Apple e Samsung citaram o 5G como um avanço essencial para a nova geração de smartphones. Entretanto, poucos ou nenhum de seus usuários serão capazes de usufruir plenamente dessa tecnologia no curto/médio prazo, tendo que se contentar com um serviço similar ao atual 4G por mais alguns anos. Isso se deve a diversos fatores, sendo um deles a guerra comercial e tecnológica existente entre os EUA e a China.
Não é de hoje que esses dois gigantes possuem disputas, contudo a mais evidente no momento é quanto à implementação e ao domínio da tecnologia da informação. Isso fica claro com o banimento de diversos aplicativos de telefone e a aplicação de embargos juntamente com taxas abusivas sobre tecnologia chinesa no território americano. Um dos motivos para isso é a proteção de dados dos cidadãos dos EUA, já que as empresas chinesas são obrigadas a fornecer informações requisitadas a seu governo facilitando, assim, uma possível espionagem por parte desse. Como o 5G promete mover grandes volumes de informações, quem tiver seu domínio terá imenso poder em mãos.
A Huawei, empresa chinesa mais avançada na pesquisa e implementação da tecnologia, foi sancionada e quase proibida de entrar no mercado dos Estados Unidos com sua tecnologia 5G, devido a esse atrito governamental e às diversas acusações de ausência da privacidade dos dados. Com isso, a tecnologia da empresa, que reutiliza antenas atuais e redireciona o tráfego de forma mais eficiente, que as outras, acaba não se popularizando. Assim, o tempo de implementação 5G, que já é longo, aumenta ainda mais e, com preços altíssimos, devido a baixa de oferta de produtos substitutos, torna-se inviável no momento atual.
Para que o 5G, com seu total potencial, seja implementado em países de grandes dimensões como o Brasil e os EUA, milhares - senão milhões - de antenas precisariam ser instaladas por todos os lugares, mais do que o 4G. Isso se dá pois essa implementação teria que ocorrer desde as antenas atuais até em semáforos e postes de luz, o que atualmente não é uma realidade nem para os países mais desenvolvidos, como o próprio EUA, devido a dificuldades físicas e econômicas.
Atualmente, nos Estados Unidos, apenas 60 cidades possuem antenas exclusivamente 5G, que conseguem proporcionar parte de seu potencial. Já no Brasil, a realidade é ainda pior. Não existem cidades com a estrutura necessária para oferecer sinais que chegam à frequência mínima exigida pelo 5G. Isso porque as operadoras brasileiras começaram a investir de fato nas pesquisas e compra de frequências pouco tempo há trás, em 2018. No entanto, algumas já vendem seus produtos como ramificações do 5G, o que na verdade não passam de tecnologias 4G, levemente aceleradas comparadas com a média.
Por fim, entende-se que temos tecnologia suficiente para já começar essa revolução tecnológica que mudará o futuro e toda nossa visão de conexão, criando cidades conectadas, sem engarrafamento e com alto nível de eficiência e controle de seus processos. Sendo assim, possivelmente em alguns anos, após as grandes empresas conseguirem superar esses impeditivos, todos nós teremos grande poder e velocidade na palma de nossas mãos.
Bibliografia:
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5G – REDES DE COMUNICAÇOES MÓVEIS DE QUINTA GERAÇÃO: EVOLUÇÃO, TECNOLOGIA, APLICAÇÕES E MERCADO. Orientador: Prof. Especialista Glauco de Castro Ligeiro. 2019. TCC (Graduação em Engenharia Elétrica) - Universidade do Sul de Santa Catarina, [S. l.], 2019.
GSMA: 5G Moves from Hype to Reality – but 4G Still King. [S. l.], 5 mar. 2020. Disponível em: https://www.gsma.com/newsroom/press-release/gsma-5g-moves-from-hype-to-reality-but-4g-still-king/. Acesso em: 22 nov. 2020.
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