top of page

Como a alavancagem está presente nas empresas de hoje.

Atualizado: 13 de abr. de 2021




“Whenever a really bright person who has a lot of money goes broke, it's because of leverage... it's almost impossible to go broke without borrowed money being in the equation”


Nesta frase, Warren Buffett afirma ser quase impossível uma pessoa falir sem ter realizado uma alavancagem. Mas, afinal, o que é estar alavancado?


Vamos imaginar que sua empresa esteja planejando lançar um produto no mercado. Entretanto, será necessário um empréstimo de 5 vezes o capital da empresa para que seja possível realizar esse investimento. Se fosse tão simples assim, por que um dos maiores investidores do mundo diria que a alavancagem está, quase sempre, entre as causas de uma falência?


Com o capital em mãos, dois cenários, por exemplo, poderiam acontecer:

  1. As vendas atendam às expectativas ou vão até melhores que o esperado, retornando o valor do investimento inicial (empréstimo mais o capital da empresa), incluindo os juros e correções.

  2. O retorno não é suficiente para cobrir o investimento inicial, deixando a empresa endividada e, possivelmente, no prejuízo.

No dicionário, a definição de alavancagem é: ato de alavancar, fazer avançar ou promover o desenvolvimento de algo. Simplificando, ao utilizar uma alavanca, a força aplicada de um dos lados será ampliada no lado oposto, impulsionando o que estiver nesse.

Em termos financeiros, alavancagem é a obtenção de recursos externos -empréstimos- a fim de multiplicar o resultado final de um investimento, o que com o capital próprio não seria possível realizar.


Dessa forma, o conceito e as possíveis consequências de uma alavancagem devem estar um pouco mais claros. A empresa, no exemplo inicial, conseguiu realizar um investimento que seria inviável só com o capital original. Entretanto, viu-se que o resultado pode ser potencializado tanto positivamente, quanto negativamente.


Contudo, para compreender melhor a alavancagem, é necessário saber que existem três tipos, dois principais e um não convencional:

  1. A criativa está relacionada a um impulsionamento a partir de mudanças na imagem ou no posicionamento da marca;

  2. A operacional, com um aumento na produção que possibilita um crescimento percentual maior do lucro;

  3. A financeira, com a aquisição do capital de terceiros a fim de investir em ativos para a empresa.

Nesse sentido, abordaremos mais detalhadamente cada um desses três tipos.


Alavancagem criativa

Das citadas, é a alavancagem menos convencional e está atrelada ao resultado intensificado que pequenas mudanças de visual, ideal e propaganda podem gerar. Exemplo de marca que passou a ser mais aceita no mercado e teve seus resultados ampliados após ações de marketing é a Pepsi.


A Pepsi criou em 2010, depois de inúmeras pesquisas, sua campanha mais famosa com o slogan: “Pode ser bom, pode ser muito bom, pode ser Pepsi!”. Ele foi responsável por deixar mais atrativo para o consumidor a compra do refrigerante, e mais fácil aceitar a falta da Coca-Cola. Com isso, a marca ganhou mais reconhecimento.


No entanto, como já foi dito, a alavancagem pode gerar tanto resultados positivos, quanto negativos. Nesse sentido, posteriormente, a Pepsi divulgou o slogan: “Pode ser bom, pode ser Pepsi em dobro!”. Assim, na compra de um produto da Pepsi, o consumidor ganhava o segundo de graça. A repercussão foi grande e, financeiramente, o retorno imediato também. Entretanto, na ocasião, os estoques acabaram na manhã do dia seguinte e a marca sofreu com a insatisfação dos clientes. Alguns mercados, onde não havia mais estoque para a promoção, até ofereceram o refrigerante da Coca pela metade do preço para não desagradar os clientes, fazendo com que o trocadilho “Pode ser Pepsi? Pode ser Coca-Cola” repercutisse nas redes sociais. Com isso, pode-se dizer que em uma tentativa de aumentar o reconhecimento da marca, na verdade, impulsionou uma imagem negativa.


A Pepsi conseguiu em suas alavancagens os dois resultados opostos. Isso confirma, portanto, a necessidade de se preparar para um possível resultado negativo e tentar evitar que isso ocorra.


Alavancagem Operacional

A segunda forma de alavancagem busca aumentar o lucro a partir do crescimento da produção, e isso pode se dar por meio de financiamentos de terceiros. Com uma produção maior, a representatividade dos custos fixos na produção diminui, por isso o custo unitário do produto diminui, aumentando assim a margem de lucro (isso está relacionado a uma economia de escala, entenda um pouco mais em um outro artigo do nosso blog) . Vamos imaginar dois cenários para uma empresa, (1) antes e (2) depois da alavancagem.


  1. A empresa produzia 1.000 peças, e seus custos eram distribuidos em R$ 40.000,00 de fixos e R$ 20.000,00 de variáveis, totalizando R$ 60.000,00.

  2. Após o financiamento, a produção aumentaria para 1.200 peças, enquanto os custos fixos ficariam inalterados e os variáveis acompanhariam o crescimento, então os custos totalizariam R$ 64.000,00.

Portanto, se os produtos fossem vendidos a R$ 70,00, o lucro no primeiro cenário seria de R$ 10.000,00, enquanto que, no segundo, seria de R$ 20.000,00. Dessa forma, é visível que um possível aumento de 20% na produção acarretou, no lucro bruto, um crescimento de 100%.


Na maioria das vezes, esses investimentos ocorrem em máquinas que consigam aumentar a produtividade sem aumentar, de forma significativa, os custos. Caso no exemplo anterior, a empresa tivesse obtido um empréstimo e com ele comprado uma máquina de R$ 20.000,00 para fazer essa alavancagem, em apenas 2 meses, ela poderia amortizar a dívida apenas com o lucro gerado pelo investimento.


Alavancagem Financeira

Já a terceira é baseada na captação de recursos de terceiros (empréstimos, debêntures, financiamentos, entre outros) com o intuito de investir em ativos para a empresa. Esses recursos podem ser empregados para o aumento da produção ou até dos lucros. Contudo, um grau de alavancagem excessivo representa um aumento das dívidas, que por sua vez, aumenta os riscos e ainda dificulta a quitação dessas. Naturalmente, em se tratando de empresas maiores e mais estáveis economicamente, esses riscos são menores e é mais fácil suportar os endividamentos. Um exemplo de empresa que está e vem se alavancando é a Tesla.


O caso Tesla.

A empresa, desde que começou a funcionar, não conseguiu fechar um ano sequer no positivo. Assim, a fim de manter-se operando, ela vem adquirindo mais e mais dívidas, e aumentando, com isso, seu grau de alavancagem.


Seus sócios já sabiam que o lucro não viria nos primeiros anos, sendo assim, se estruturaram e se consolidaram por 14 anos. Em 2016, 400 mil pessoas pagaram mil dólares para colocarem seu nome na fila de espera para comprar o Model 3, seu terceiro lançamento. No entanto, a Tesla ainda não conseguiu realizar a entrega nem para 10% das pessoas que esperam por essa oportunidade.


Além disso, esses números indicam um grande problema, existem pessoas querendo comprar o produto, mas não há produtos suficientes. Isso evidencia uma perda muito grande de oportunidade, além de problemas na produção. Esse último fica ainda mais visível quando se sabe dos resultados do investimento bilionário feito em sua fábrica, a Gigafactory que está produzindo muito abaixo do esperado. Em uma comparação, a Bloomberg, uma empresa de tecnologia e dados para o mercado financeiro e agência de notícias operacional em todo o mundo, apresenta a diferença entre as metas os reais dados e a estimativa da própria Bloomberg.




Nesse sentido, a empresa não vende tudo que poderia e sua receita não cresce e não suporta os gastos atrelados ao seu modelo.


Somado a isso, a Tesla está num setor que exige constantes inovações. Como desenvolvedora de motores elétricos, a empresa deve sempre buscar os maiores rendimentos possíveis dos motores e criar novas tecnologias. Para uma análise comparativa, a Tesla investe 11,8% do orçamento em pesquisa e desenvolvimento (P&D), enquanto a Volkswagen, com o segundo maior investimento percentual, investe apenas 6,7%. Esses números tornam visível que o investimento em P&D é uma prioridade para modelo de negócio da Tesla, e por isso, mesmo que sempre em prejuízo, ela sabe que deve desenvolver suas tecnologias. No ano de 2017, por exemplo, ela investiu mais de 1 bilhão nesse setor, como pode ser visto no gráfico a seguir.




Sendo assim, além de uma receita reduzida, devido aos problemas presentes na produção e aos enormes gastos atrelados ao seu modelo de negócio, os empréstimos arrecadados acabam se tornando essenciais para a sobrevivência da empresa. Nesse contexto, torna-se possível uma crise de liquidez, já que a Tesla deverá arcar com as dívidas contraídas durantes esses anos, mas não possui créditos suficientes que a possibilitam quitar esse débito atualmente. Assim, é possível que ela vá se alavancar mais ainda, tanto para arcar com essas obrigações, quanto para manter seu funcionamento, enquanto ela não conseguir lucrar. Em 2017, por exemplo, sua dívida subiu 45% e chegou aos 10 bilhões de dólares, sendo que as dívidas de curto prazo diminuíram 23%, como é demonstrado abaixo.





Porém, mesmo operando no vermelho, a Tesla tem se mantido como uma referência do mercado a partir do seu ideal. As pessoas acreditam na marca e têm esperanças que seus gargalos serão resolvidos, e com isso ela passaria a funcionar por conta própria.

Portanto, com alguns cenários possíveis, é difícil afirmar quais serão as consequências da alavancagem da Tesla. Entretanto, é incontestável que a empresa está com dificuldades em gerenciar essas dívidas. Nesse sentido, existe alguma outra opção para as empresas não terem que arcar diretamente com dívidas?


IPO

Caso a não ache válido enfrentar os riscos da contração de dívidas, existem algumas opções para conseguir capital e realizar seus investimentos. O IPO, por exemplo, é uma possibilidade. Initial Public Offering (oferta pública inicial) é o momento no qual a empresa abre seu capital, ou seja, vende parte das suas ações e passa a estar listada na bolsa de valores. O IPO tem como objetivo arrecadar fundos para a empresa, mas este processo tem vantagens e desvantagens, alguns exemplos são:


Vantagens:

A arrecadação não deixa a empresa endividada, o que melhora seus indicadores financeiros.

Além de arrecadar os fundos necessários para um investimento, a empresa pode usar seu capital aberto como atrativo para profissionais qualificados que podem receber um pouco menos, mas em troca receber ações.


Desvantagens:

A empresa possivelmente terá que contratar um banco para ajudá-la nos processos e ainda é um investimento caro.

A partir do momento em que a empresa está na bolsa, ela enfrenta legislações e apurações mais intensas. Além de divulgar muito mais informações, que podem beneficiar outras concorrentes.


Um exemplo de empresa que abriu seu capital recentemente é a Stone. Após a abertura, e atrair a atenção e o dinheiro de diversos investidores, ela arrecadou mais de 2 bilhões de dólares. A empresa diz que o capital servirá para futuros investimentos, fusões e/ ou aquisições.


Mesmo a abertura da Stone, inicialmente, ter dado muito certo e superado as expectativas, nem todas as empresas têm essa possibilidade. Como dito, é um investimento caro e que leva tempo, além disso, a organização deve ser atrativa o suficiente a fim de conseguir arrecadar investimentos suficientes. Não só ser bem atrativa e ter capital para o investimento, a empresa tem que corresponder às expectativas. A OGX, por exemplo, após abrir o capital arrecadou 6,7 bilhões de reais. Quando os relatórios que se esperavam 20 mil barris de petróleo por dia apareceram com menos da metade como resultado, as ações da empresa caíram 25% e, depois de 2 anos de funcionamento a empresa faliu. Portanto, cabe à empresa avaliar a opção mais segura e vantajosa com a intenção de chegar a uma opção que não a prejudique e a ajude a se expandir.


Vale a pena?

O princípio da alavancagem está relacionado a capacidade de alcançar um resultado maior que antes não seria possível. Isso pode ocorrer tanto por medidas de que mudem a imagem da empresa ou por medidas que aumentem a sua capacidade de investimento.

Portanto, a questão de saber se vale ou não assumir dívidas ou vender parte de sua empresa para conseguir realizar um investimento está relacionado à empresa avaliar os riscos e avaliar a melhor opção. Será que os possíveis ganhos ou a certeza do retorno são grandes o suficiente a ponto de tornarem os riscos aceitáveis e assim manter a decisão de alavancagem?

Nesse sentido, como Walter Schloss disse: "Be careful of leverage. It can go against you.".


Comentários


bottom of page