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Private Equity Funds: a consultoria estratégica está presente no mercado financeiro

Para quem se interessa por uma carreira no mundo dos negócios, pode ser uma oportunidade desejável trabalhar em uma posição que lhe permita ter contato com grandes empresas e seus respectivos C-level, desenvolvendo seu networking e conhecimentos sobre business. Trabalhar em um fundo de Private Equity significa trabalhar no mercado financeiro, mas ir além dele. Conhecimentos sobre consultoria estratégica, especialmente nesse modelo de fundo, são de extrema importância para que o investimento feito traga retorno.


De acordo com o site Consultancy.UK, em todo o mundo, só no ano de 2017, o mercado de assets under management (gestão de ativos) alcançou um valor de $5,2 trilhões, dos quais, $2,2 trilhões pertencem somente a fundos de Private Equity. Um número assustador e que deve continuar crescendo. Entender esse setor é relevante pois cada vez mais ele é responsável pelos processos de aquisições de empresas e de geração e troca de conhecimentos sobre gestão e finanças. Por consequência do seu crescimento, com o passar do tempo, vem oferecendo mais vagas de emprego e deve ser considerado como mais uma grande oportunidade de se trabalhar com negócios.



O que são Private Equity Funds?


Private Equity Funds (PEs) são fundos responsáveis por acumular capital e trazer lucro aos seus investidores participantes por meio da compra de uma considerável parte de uma empresa de médio ou grande porte. Assumem, assim, uma forte participação em sua função administrativa tendo um alto volume de capital para fazer investimentos. O objetivo é fazer a empresa valorizar e depois a revender por um valor superior ao de compra. É semelhante aos fundos de Venture Capital, porém, o que os diferencia, principalmente, é o tamanho das empresas-alvo.


É um processo, também, muito interessante para as empresas que recebem o investimento, representando uma forma muito eficiente de arrecadar recursos, uma vez que o fundo passa a ser um dos proprietários e o dinheiro gasto para a aquisição é, em parte, usado na própria companhia. Podemos fazer um paralelo com o processo de Initial Public Offering (IPO), que seria uma oferta pública de ações, no qual as empresas disponibilizam suas ações para serem vendidas e, desse modo, arrecadam capital. Ambos representam meios de capitalizar uma empresa, sendo o PE uma forma privada e a oferta pública de ações, como diz o nome, pública.


A diferenciação desses termos vem do fato de que em um a compra de ações é feita, por meio de corretoras do mercado financeiro, a qualquer pessoa que esteja disposta a comprá-las. Enquanto isso, no outro, o fundo interessado faz uma oferta e só compra de fato partes da empresa caso os dois envolvidos estejam de acordo com a negociação. Um depende apenas do comprador, outro do comprador e do vendedor. Outra grande diferença é que, no primeiro caso, a maioria das participações da empresa não são vendidas a um único grupo, ao contrário do caso dos PEs, no qual a empresa em questão vende uma grande parte sua ao fundo comprador e este passa a se tornar, provavelmente, o principal administrador responsável pela empresa. Dependendo do volume de compras das ações, pode-se obter uma posição significativa de influência na tomada de decisões, mas muito dificilmente comparada à de uma oferta privada.

Um setor que não para de crescer


Desde as duas décadas finais do século XX, o número de IPO’s tem diminuído consideravelmente. Nos Estados Unidos, por exemplo, nesse mesmo período, ocorriam em média 300 desses processos por ano. Hoje, essa média já caiu para menos da metade. Enquanto isso, evidencia-se um movimento contrário e diretamente relacionado a esse dado. Como observado na figura 1, houve um crescimento exponencial, a partir de 1980, no número de PEs, o que mostra um mercado em ascensão e movimentando cada vez mais valores astronómicos de dinheiro.



Figura 1: Private equity’s no mundo (em milhares) ao longo dos anos.

Mas por que esse segmento tem crescido tanto?


O que poderia motivar esse crescimento? Os processos de Private Equity são oportunidades incríveis para as empresas. A resposta para essa pergunta é longa e aborda diversos fatores que serão citados e destrinchados mais detalhadamente nos tópicos abaixo:

  • Melhorias na gestão:

O setor de PEs possui equipes qualificadas, especializadas e experientes em gerir empresas, que buscam otimizar a parte estratégica. A nova administração busca fazer um diagnóstico, procurar soluções, oportunidades e valorizar a cultura empresarial de maneira que se obtenham melhores resultados. Procura-se implementar as principais práticas da governança corporativa como estimular a produtividade dos funcionários através de recompensas pelos resultados e exercer uma liderança efetiva e presente.


  • Combinação de know-how:

Os PEs trazem toda uma metodologia operacional, conhecimentos e novas ferramentas - máquinas, softwares - para somar com os já existentes na empresa.


  • Obtenção de recursos:

Ter um fundo por trás da empresa faz com que ela passe a dispor de uma grande quantidade de capital o que permite ter o respaldo econômico para tomar as atitudes necessárias em prol da valorização da empresa. Por exemplo, possibilita ampliar infraestrutura, melhorar qualidade de matérias primas e qualificar o material humano.


  • Maximização do valor de mercado:

Os gestores têm elevada experiência e buscarão maximizar o valor de mercado da empresa. Pelo fato de já terem participado de processos parecidos em outras empresas e serem especializados nessa parte mais estratégica, espera-se que agreguem muito à administração, de modo que alcancem o objetivo de um PE: a valorização da empresa para posterior venda.


  • Aumentar a credibilidade:

Ter um PE por trás,como explicado no primeiro tópico, faz com que se espere melhorias na gestão. Por consequência, faz o mercado esperar melhores resultados, ter mais confiança na nova administração e nas competências da empresa, de modo a potencializar a sua credibilidade.


  • Processo menos custoso financeiramente:

Colocar ações da empresa a venda na bolsa é uma forma de capitalizar que, por conta de burocracias, exige demasiados custos, impossibilitando muitas empresas de conseguirem realizar esse processo.


  • Sigilo de informações:

Caso a empresa comprada não possua o seu capital aberto, não há necessidade nesse tipo de negócio de tornar públicas informações relevantes e que seriam benéficas para a empresa se fossem mantidas confidenciais como relatórios contábeis e dívidas.


Quais os riscos?


No entanto, também existem pontos negativos, nos fundos de Private Equity, a serem relevados. Por mais que se façam análises profundas antes de se decidir em qual opção do mercado investir, haverá sempre um risco no investimento atrelado a um possível fracasso da empresa. Como nesse tipo de negócio os PEs compram grande parte da participação da empresa, caso os resultados sejam negativos, o prejuízo para os investidores é enorme. Além disso, pelo crescimento desse setor, a concorrência se tornou maior e é necessário agilidade para investir antes que alguma concorrente roube a oportunidade, porém sem perder a grande precisão ao analisar para não cometer equívocos.


Por último, o “paradoxo” dos PEs: “Quanto mais PEs, menos PEs tendem a aparecer”. Isso evidencia mais um problema: quanto mais representativo for este segmento, menor a quantidade de empresas abrindo seu capital. As empresas de capital aberto têm compromisso com os acionistas de repassar informações internas de grande relevância e, dessa maneira, ajudam os possíveis investidores a entenderem melhor o mercado, podendo fazer análises comparativas. Sem elas, a precisão dos estudos dos PEs diminui e o risco do investimento aumenta, podendo num futuro desestimular a criação desse tipo de fundo.


O gráfico da figura 2 mostra o resultado de uma pesquisa feita com investidores de PEs. Nela, era perguntado se estava mais fácil ou difícil encontrar oportunidades atrativas para se investir em comparação com o ano anterior. Tanto em 2015 quanto em 2016, em torno de um terço dos entrevistados afirmou que a situação ficou mais complicada. Por outro lado, somente em torno de um décimo afirmou estar mais simples, o restante afirmou achar que não houve mudanças significativas.



Figura 2: Pesquisa sobre dificuldade em achar novos investimentos atrativos

Como são decididas as empresas-alvo:


Já vimos que as negociações que são feitas envolvem grandes riscos e grandes recompensas para os investidores. Assim, é necessário ter cautela antes de tomar uma decisão. Os PEs, geralmente, procuram alguns pontos principais nas empresas que pretendem investir como:

  • Qualidade dos funcionários de cargo mais alto:

Por mais que os PEs assumam as decisões mais estratégicas da empresa, quem estará no dia a dia são os gerentes, diretores que trabalham nela e por isso é essencial que eles sejam ótimos profissionais


  • Situação do mercado:

Se o mercado está crescendo, as chances da empresa crescer são maiores, porque ela não precisa, obrigatoriamente, ganhar market share de seus concorrentes para ter melhores resultados e valorizar.


  • Possibilidade de saída:

A ideia de um PE não é possuir diversas empresas, mas sim valorizá-las e vendê-las. Ainda que a probabilidade do investimento ser bem sucedido seja grande, se a possibilidade de se desvencilhar dela no futuro for difícil, provavelmente não se dará sequência ao investimento


  • Estabilidade financeira x Subvalorização

No geral, buscam-se empresas com fluxo de caixa minimamente estável para diminuir o risco atrelado ao investimento e estar mais protegido a flutuações negativas do mercado, como desacelerações econômicas, aumento do preço de certa matéria prima e escândalos políticos. Por outro lado, uma saúde financeira precária pode causar uma desvalorização, fazendo com que se torne, possivelmente, menos complexo o processo posterior de valorização e que o investimento inicial necessário seja menor. A fim de tirar conclusões melhores acerca desse último ponto, é feito o processo de valuation da empresa, no qual com o uso de alguns indicadores - obtidos de dados como a receita, o patrimônio líquido e o lucro - pode-se entender melhor se a análise em questão retrata um caso de sub ou supervalorização. Cabe, ao fundo, ponderar os dois lados e enxergar onde está a melhor oportunidade.


  • Versatilidade:

A possibilidade de tornar o negócio mais versátil é vista com bons olhos. Interessa mais uma empresa que não está presa somente a um ramo, que consegue atingir diferentes públicos, capaz de se expandir para outras áreas geográficas do que outras restritas a um único tipo de mercado.


  • Posição no mercado e vantagens competitivas:

É mais seguro investir em empresas que estão consolidadas no mercado e possuem diferenciais em relação aos seus concorrentes. Por esse modelo de negócio já ser arriscado, mitigar riscos na medida do possível é uma estratégia, muitas vezes, procurada por esses fundos. Em contrapartida, pode ser que uma empresa com pouca participação no mercado apresente um potencial de valorização maior e menos complexo. Assim como no quarto tópico, não há como definir uma regra, cabe analisar especificamente cada oportunidade de investimento.


  • Relação Private Equity e Consultoria Estratégica:

O que fazem os PEs? Em parte, não é assumir as questões estratégicas de uma empresa de modo que ela possa evoluir? De certa forma, com uma liberdade conceitual, podemos inferir que o que é feito se assemelha bastante com um projeto de consultoria estratégica de longa duração, numa empresa, com o intuito de aumentar o seu valor. Porém com uma singularidade: diferente das consultorias, quem está fazendo a análise e a gestão é a própria administração da empresa, logo, não existe uma relação de contratada e contratante.


A interseção entre os dois trabalhos é tanta que existem consultorias especializadas em PE’s: empresas que ajudam o fundo a fazer análise da compra e a administrar o negócio. Diversas consultorias estão fortemente presentes no setor e um exemplo disso é a Bain & Company, uma das três maiores empresas de consultoria estratégica do mundo, que possui uma participação enorme no ramo. De acordo com seu próprio site, ela participou de 50% das transações de aquisições mundiais avaliadas acima de $ 500 milhões relacionadas a fundos de Private Equity. Sem dúvidas, a consultoria estratégica é parte integrante desse mercado que está cada vez maior e merece a atenção de qualquer pessoa envolvida com o mundo dos negócios.

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