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Álbum da Copa Panini: o Preço do Monopólio



A Panini Group é o maior conglomerado de empresas do mundo no nicho de colecionáveis esportivos, como sport cards e figurinhas, além de produzir gibis, revistas e livros. Em 2009, surpreendeu o mundo ao fechar um contrato de exclusividade com a NBA, quando ainda era virtualmente desconhecida no mundo do basquete americano. Até então, os sport cards da liga nacional de basquete americana eram produzidos pelas tradicionais concorrentes Topps e Upper Deck, que tiveram que sair da categoria que elas mesmas ajudaram a criar e, ainda, manter contratos com estrelas como Michael Jordan e LeBron James sem poder mais usar a logo da NBA e de seus times. Embora essa decisão tenha sido alvo de críticas, a NBA renovou o contrato de exclusividade com a Panini em todas as oportunidades subsequentes. A liga de basquete americana entrou para a coleção de competições esportivas associadas à marca Panini, tais como a NFL (liga de futebol americano dos EUA), NHL (liga nacional de hockey americana) e a FIFA, que dispensa apresentações. Assim, a italiana se estabelece, de longe, como dominadora do mercado de figuras mundial e detentora do monopólio de cromos de um dos maiores eventos esportivos globais: a Copa do Mundo. A pergunta é: esse monopólio seria criativo ou destrutivo? Quais são seus efeitos para os colecionadores?

Para responder a essas perguntas, precisamos, antes, definir o que seria um monopólio criativo e um destrutivo. O conceito de monopólio criativo foi introduzido por Peter Thiel, em seu livro “De Zero a Um”, no qual defende a existência de “bons” monopólios, isto é, monopólios que são saudáveis para a economia, como seria o caso do Google. É válido lembrar que não necessariamente monopólios detêm 100% do mercado em que estão inseridos, mas podem ter parcelas expressivas do setor. Peter Thiel argumenta que o Google seria um exemplo de monopólio criativo por ter um produto/serviço tão bom que nenhum competidor consegue fazer igual. Logo, todos optam pelo serviço de melhor qualidade e acabam gerando um monopólio natural do mercado. Como qualquer competidor ainda pode criar algo ainda mais inovador e roubar esse posto, as monopolistas continuam investindo, em peso, em pesquisa e desenvolvimento para garantir essa supremacia, que é muito lucrativa, e, com isso, geram-se muitos benefícios para as pessoas. No entanto, quando os monopólios são de cunho estatal, ou seja, garantidos por um ente legal do Estado, é comum se tornarem algo negativo para a sociedade, uma vez que podem desestimular empresas a inovar e melhorar, dado que não precisam disputar por consumidores.


O álbum da Copa da Panini é um monopólio garantido pelo seu contrato de exclusividade com a FIFA. Mas será que esse monopólio estaria destruindo valor para a sociedade? Para entendermos isso, é válido analisar o quanto as pessoas comprariam a mais ou a menos se o preço ou qualidade dos álbuns e figurinhas variassem. Se o mercado for muito sensível a mudanças nesses dois fatores, então, se a Panini baixasse a qualidade e/ou aumentasse os preços, sentiria um impacto considerável em sua receita e, provavelmente, em seus lucros. Nesse cenário, a empresa se sentiria incentivada a manter a excelência constante para ampliar seus lucros, apesar de possuir um monopólio. Mas, será que esse é o caso?


Os álbuns de figurinha são uma tradição que começou, no Brasil, em 1950, ano de lançamento do primeiro álbum no país, apesar de a Panini só entrar no jogo na Copa de 1970. Ou seja, há quase 70 anos, eles têm sido colecionados, Copa após Copa, geração após geração, de forma a existir uma base leal de clientes ativos desses produtos. Será que essas pessoas deixariam de comprar os álbuns por conta de aumentos significativos no preço?


De 2014 para 2018, por exemplo, o pacote de 5 figurinhas da Copa, aumentou de R$ 1 para R$ 2, um aumento de 100% em contraste com uma inflação acumulada (IPCA) de jan/2014 a jan/2018 de aproximadamente 28%. Certamente, a desvalorização do real frente a moedas estrangeiras pesou, mas, ainda assim, na Inglaterra, o pacote de 5 figurinhas foi de 50 a 80 centavos de libra de 2014 a 2018, um aumento de 60%. Quanto à qualidade das figurinhas, é questionável que a Panini tenha dedicado muitos esforços à sua melhora. Ao possuir uma demanda alta e centralização do direito de fornecer esse tipo de produto, ela possui muito mais poder de barganha que seus clientes, e, se quiser, provavelmente consegue tornar as figurinhas ainda mais caras, embora já custe mais de 270 reais comprar os exatamente 682 cromos da edição de 2018. E isso desconsiderando a ocorrência de figurinhas repetidas, o que é quase impossível de acontecer.


Será que, em um cenário de maior prosperidade econômica no Brasil, a Panini aumentará ainda mais seus preços? Até que ponto as pessoas estariam dispostas a abrir mão de uma tradição consolidada na cultura brasileira por conta de preços extorsivos? Será que a existência do contrato de exclusividade (cuja efetividade é garantida por governos) prejudica os consumidores, que não têm opção de comprar outros álbuns a preços mais acessíveis ou dedicados a outro tipo de público, como fãs que gostariam de colecionar também cromos de lances de futebol, por exemplo? Todas essas perguntas permanecem sem resposta enquanto a Panini desfruta de seus contratos com as maiores ligas esportivas do mundo, que geram um faturamento bilionário ao grupo.

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