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Clássica. Original. Inovadora. Essas são as principais características que descrevem a atual líder e pioneira no mercado de streaming: a Netflix. No entanto, com a constante necessidade de inovar para manter seu posto, a empresa enfrenta um mercado cada vez mais competitivo, sofrendo uma queda de 31% em seu market share nos EUA nos primeiros anos de pandemia. Nesse sentido, vale analisar: quais são os próximos passos do negócio para não se estagnar e quem são os novos players capazes de ultrapassá-la?
O pioneirismo no mercado de streaming
A Netflix, empresa de entretenimento por streaming, foi fundada em 1997 nos Estados Unidos por Reed Hastings e Marc Randolph. A ideia inicial era criar um serviço de aluguel de DVDs pela internet, oferecendo aos assinantes a opção de alugar filmes sem sair de casa a partir do seu site, recebendo-os pelo correio e podendo mantê-los pelo tempo desejado, sem taxas de devolução. Esse diferencial a favor da praticidade fez com que a empresa tivesse muito sucesso, se destacando frente às antigas redes, como a Blockbuster, uma das maiores redes de locadoras do mundo na época.
Nesse contexto, em 2007, a Netflix deu um passo importante ao lançar o serviço de streaming, permitindo aos assinantes assistirem a filmes e séries online, diretamente de seus computadores. Com essa mudança, a empresa começou a oferecer uma ampla variedade de conteúdo sob demanda, disponível a qualquer momento para os usuários, o que contribuiu para a expansão da empresa e a sua chegada a diversos países ao redor do mundo. Com isso, ao longo dos anos, o negócio continuou a inovar, investindo em tecnologia, conteúdo e diversificando sua base de assinantes a partir de diversas estratégias de expansão que a levaram a ser a líder do setor, como:
1. Produção de Conteúdo Original: O investimento em conteúdos originais foi um diferencial para a Netflix, que conseguiu uma forma de atrair e reter assinantes com produções exclusivas. Dessa forma, além de filmes e séries diversas, a marca fez seu nome na indústria com projetos bilionários que conquistaram a população mundial, tendo um gasto estimado de US$ 4,5 bilhões em 2015, que aumentou para US$ 20 bilhões em 2020. Como exemplo desses feitos, existem "Stranger Things", "House of Cards", "Orange is the New Black" e The Crown que foram muito bem sucedidas, contribuindo significativamente para a consolidação da marca nesse mercado.
2. Expansão global: A empresa está focada na expansão para novos mercados ao redor do mundo e tem sido capaz de investir e alcançar sucesso nesses espaços devido à sua estratégia de produzir conteúdo localizado e personalizado para cada cultura. Assim, ela oferece dublagens e legendas em vários idiomas, aproveitando a crescente penetração da internet e do streaming de vídeo em todo o globo. Nesse sentido, ela vem lançando serviços em diferentes países, começando a explorar o oriente do mundo e sendo bem-sucedida na Ásia, com a região da Ásia-Pacífico representando dois terços das novas assinaturas globais da Netflix no segundo trimestre de 2021. Entre 2018 a 2020, a companhia também investiu cerca de US$ 2 bilhões para licenciar ou produzir conteúdo na região e, agora, acumulou uma biblioteca de mais de 200 títulos originais asiáticos e empregando cerca de 600 funcionários em toda a região com sua sede na APAC, em Cingapura.
3. Parcerias e Colaborações: A Netflix estava buscando parcerias estratégicas com estúdios de produção, criadores de conteúdo e outras redes para fortalecer seu catálogo e oferecer experiências únicas aos assinantes. Um exemplo é a atual parceria entre a Netflix e a sua concorrente HBO, que permite a Netflix exibir produções da Warner Bros em seu catálogo, além do acompanhamento da empresa quando influenciadores digitais são requisitados para a apresentação de reality shows, por exemplo.
4. Diversificação de conteúdo: A Netflix conta com investimentos contínuos em tecnologia para melhorar a experiência do usuário, incluindo algoritmos de recomendação mais sofisticados que personalizam as recomendações do cliente no streaming com base no que foi assistido anteriormente, além do desenvolvimento de recursos para envolver os espectadores. Nesse sentido, a companhia segue expandindo sua oferta de conteúdo para além de filmes e séries, explorando outras formas de entretenimento com conteúdo interativo, como o filme Black Mirror: Bandersnatch que proporciona possibilidades de caminhos a serem escolhidos, no qual o usuário controla a história a partir de perguntas e respostas sobre o desenvolver do conteúdo, além de experiências imersivas, com os jogos mobiles desenvolvidos em torno da história de seu portfólio. Além disso, a empresa continua atenta às mudanças nos hábitos de consumo de entretenimento, ajustando sua estratégia para atender às necessidades dos usuários, como o aumento da preferência por conteúdo sob demanda e a mobilidade dos dispositivos móveis.
5. Algoritmos de identificação de irregularidades: A Netflix conta com políticas contra o compartilhamento de senhas, proteção desenvolvida para combater uma consequência negativa de seu sucesso: as fraudes. Isso diminuiu a partilha excessiva de contas, pois só um número limitado de pessoas pode usar o login ao mesmo tempo, o que permitiu que tivesse mais controle e mais assinaturas a serem realizadas. A empresa recentemente atualizou essa política, exigindo que os usuários que desejam compartilhar suas contas com terceiros paguem uma taxa adicional. Mesmo com a insatisfação de parte dos clientes, com a possibilidade de alguns usuários migrarem para outras plataformas que não tenham essas restrições, a Netflix tem sido bem-sucedida em expandir para novos mercados e aumentar sua base de assinantes, ou seja, se os usuários não estão dividindo a conta com um grande número de pessoas, haverão mais assinaturas.
A partir de todas essas inovações, a empresa é um destaque no mercado, sendo pioneira e também líder do setor, com um crescimento contínuo em termos de receita.
Briga de gigantes: âmbito internacional
Por muito tempo, a Netflix atuou em um monopólio no setor de streaming. Contudo, vendo esse sucesso, outras empresas já consolidadas como Disney e Amazon decidiram investir em plataformas próprias de conteúdo para competir pelos assinantes que antes só tinham a Netflix como opção. A pandemia de COVID-19 teve um impacto significativo para o setor, uma vez que, com mais pessoas em casa, ocorreu um aumento na demanda de serviço de streaming ao redor do mundo. Assim, também houve uma mudança na forma como as empresas de mídia produzem e distribuem conteúdo, com muitas empresas preferindo o modelo de distribuição direta ao consumidor, ou seja, em vez de ser lançado no cinema, ir diretamente ao streaming.
No entanto, a concorrência não é a única preocupação dos principais players: produzir e licenciar conteúdo também é um desafio significativo para as empresas. Nessa ótica, a pandemia também levou a um aumento nos custos de produção, com muitas empresas tendo que interromper a elaboração de conteúdo devido a restrições de viagem e outras limitações. Apesar desses desafios, as principais plataformas têm sido bem-sucedidas em expandir para novos mercados e aumentar sua base de assinantes, em grande parte devido à sua estratégia de produzir conteúdo localizado e personalizado para cada mercado.
Algumas das principais concorrentes da Netflix, tanto no Brasil quanto ao redor do mundo, incluem a Amazon Prime, que oferece uma vasta biblioteca de produções e jogos esportivos, juntamente com outros benefícios para assinantes, como o Amazon Music, Amazon Games e frete grátis em parte das compras do site, além um dos mais mais baratos preços de assinatura do mercado. A Disney+, que oferece um catálogo de filmes e séries da Disney, Pixar, Marvel, Star Wars e National Geographic. A HBO Max, que além do Brasil, está presente em outros países, oferece conteúdo da própria HBO e de marcas associadas, como DC, Cartoon Network. Por fim, a Hulu, disponível principalmente nos Estados Unidos, oferece uma combinação de programas e conteúdo sob demanda de diversas redes de televisão.
Além dessas plataformas, há várias outras empresas como Paramount+, YouTube Premium, Sony Liv, entre outros, cada uma com seu próprio catálogo de conteúdo e estratégias para atrair assinantes.
Nesse sentido, a competição nesse mercado global tem impulsionado todas essas plataformas a investir pesado em estratégias para atrair um maior número de assinantes.. A Netflix, apesar da concorrência acirrada, mantém uma posição de destaque em muitos países devido à sua extensa biblioteca de conteúdo, investimento significativo em produções originais e reconhecimento de marca. No entanto, o mercado de streaming continua sendo dinâmico e altamente competitivo, o que leva todas as plataformas a continuarem inovando e adaptando suas estratégias para se manterem relevantes e atraentes para os consumidores ao redor do mundo. Com mais opções de serviços, maior quantidade de conteúdo original, maior mobilidade e briga por preços, essa concorrência impulsionará o mercado, gerando pressão por pacotes mais flexíveis e melhores produtos que, ao final, irão beneficiar o consumidor.
Briga de gigantes: âmbito nacional
Para o contexto nacional, o cenário não é tão diferente em termos de players predominantes, porém com alguns novos competidores, visto que o contexto brasilero também acompanha essa tendência de ascensão do streaming. Alguns exemplos são o Globoplay, plataforma da Rede Globo que oferta um amplo catálogo de novelas, séries, programas de TV e produções originais, o Telecine, que participa do domínio da mesma empresa, além do Brasil Paralelo, outra ferramenta em constante ascensão que é composta majoritariamente de obras nacionais. Para além de novos concorrentes, a companhia também enfrenta desafios quanto ao domínio da televisão popular no país, ainda com a pobreza e a desigualdade de renda, que gera a normalização do consumo de cópias das versões originais, as quais saem por um preço mais barato.
Apesar dessa ascensão de mercado, o Brasil conta com outros competidores além dos players legalizados, sendo o país com maior consumo de pirataria online no mundo. Nesse sentido, as autoridades brasileiras têm tomado medidas para combater a pirataria, incluindo a implementação de leis mais rigorosas e ações de fiscalização. No entanto, essa prática continua a ser um desafio significativo para as empresas de streaming, que têm que lidar com um aumento nos custos de produção e licenciamento de conteúdo. A pirataria também impacta a receita dessas companhias, com a Netflix estimando que poderia estar perdendo US$ 192 milhões em receita mensal no mundo devido a esse obstáculo.
Dessa forma, as empresas de streaming têm tomado medidas para mitigar a pirataria, incluindo a implementação de tecnologias de proteção, como a criptografia de conteúdo e a marca d’água digital, além de estarem trabalhando com provedores de serviços de internet e autoridades governamentais para identificar e processar indivíduos que violam os direitos autorais.
O mercado de streaming para os próximos anos
A inflação tem sido um desafio significativo para as empresas de streaming para os próximos anos, com muitas delas tendo que lidar com um aumento nos custos de produção e licenciamento de conteúdo. Além disso, muitas companhias têm enfrentado pressão para manter os preços acessíveis, o que é difícil devido ao aumento dos custos. Ainda assim, algumas empresas, como a Netflix, têm sido capazes de aumentar seus preços sem afetar significativamente sua base de assinantes, possuindo uma alta taxa fidelização da clientela.
A competição entre os provedores de streaming provavelmente aumentará à medida que novos serviços entram no mercado e os existentes expandem seu catálogo. Grandes players como Netflix, Disney+, Amazon Prime Video, HBO Max, entre outros, vão continuar a batalha por assinantes, levando a uma oferta diversificada de conteúdo e lutando pelo licenciamento de produções aclamadas. O conteúdo original somada a busca de atingir diferentes tipos de público continuará sendo uma estratégia chave para os serviços de streaming e serão essenciais para atrair e reter assinantes. O aprimoramento da tecnologia, incluindo melhorias na qualidade de streaming, interfaces de usuário mais intuitivas e personalização aprimorada por meio de algoritmos de recomendação e inteligência artificial também será uma área de foco para melhorar a experiência do usuário. Além disso, também poderá haver uma tendência de consolidação no mercado de streaming, com algumas plataformas maiores realizando fusões e aquisições com players menores para fortalecer suas ofertas ou expandir seu alcance global.
Em suma, o mercado de streaming tem evoluído rapidamente e é esperado que continue crescendo nos próximos anos. O setor deve continuar expandindo à medida que mais consumidores optam por plataformas de streaming pela acessibilidade, conveniência e variedade, com o crescimento do mercado não estando limitado apenas aos países desenvolvidos. Para além das complicações, o futuro da Netflix como líder dessa área dependerá de sua capacidade de continuar inovando, produzindo conteúdo de alta qualidade, expandindo globalmente, atraindo novos assinantes e mantendo a fidelidade dos usuários existentes. Manter sua posição exigirá uma adaptação contínua às mudanças do setor e às preferências dos consumidores, o que não será nada fácil.
Glossário:
Streaming: tecnologia de transmissão de conteúdo de filmes e séries de forma online.
APAC: Especialista Pan-Regional em Comunicações, cargo é responsável por desenvolver estratégias eficazes de comunicação corporativa, gerenciar as comunicações internas e elaborar conteúdo para os meios de comunicação ou o site da empresa.
Reality show: gênero de programa de televisão baseado na vida real.
CAGR: taxa de crescimento anual composta, termo específico de negócio e investimento para a razão de progressão geométrica que fornece uma taxa de retorno constante ao longo do período de tempo.
Referências:
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