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Foto do escritorMARCELO ALVES DE ARRUDA BEZERRA

Fundo Monetário Internacional: Cura ou Doença?

Atualizado: 12 de abr. de 2021



O Fundo Monetário Internacional, também conhecido pela sua sigla FMI (ou em inglês IMF) é um dos principais agentes financeiros do planeta. Responsável por realizar empréstimos bilionários e fundado há mais de 75 anos, ele foi criado, juntamente com outras instituições, na intenção de garantir o desenvolvimento e saúde da economia mundial.


Desde então, o fundo passou por grandes mudanças dentro do seu sistema, com sua impopularidade sempre crescendo frente a grande parte das populações, especialmente aquelas dos países que adquiriram empréstimos, como Argentina e Ucrânia. Mas porque será que essa entrada de capital não é bem vinda nos países? Para compreender melhor esse cenário, vamos analisar como tudo começou.


Tempos de guerra

Tudo teve início em julho de 1944, quando 44 países aliados da Segunda Grande Guerra decidiram se encontrar para realizar a Conferência de Bretton Woods. O objetivo era planejar uma nova estrutura para o sistema monetário internacional, ou seja, reconfigurar as regras e as instituições que garantiam o andamento estável da economia mundial.


E qual será que foi o motivo que levou tantos países a desejarem rever essa situação? A realidade é que, com o fim da Segunda Guerra Mundial se aproximando, diversas nações chegaram ao consenso de que a forma como a economia estava sendo regida até o momento tinha algum problema. Desde o início do século, a população mundial já havia vivenciado a Grande Depressão, taxas de câmbio instáveis, políticas de exportação e importação assimétricas, entre outros fatores. A soma disso tudo fez com que os futuros vencedores da guerra se reunissem para tentar evitar novos acontecimentos como esses.


Desse modo, após semanas de discussões, especialmente entre o representante do Reino Unido, John Keynes, e o dos EUA, Harry White, um acordo foi feito. A partir desse evento, surgiu o Fundo Monetário Internacional, além de outras instituições, como o Banco Mundial e a Organização Mundial do Comércio, e para cada uma delas foi dado um papel específico.

Para o FMI, coube supervisionar as taxas de câmbio entre os países, de tal modo que todas as moedas deveriam ter seu valor cotado em dólar, o que antes era ditado pelo Padrão Ouro, ou seja, tinha o metal dourado como seu lastro. Dessa forma, seria possível manter as taxas de câmbio estáveis e estimular o comércio internacional. Além disso, outra função dessa instituição foi a de oferecer empréstimos para nações ligadas ao fundo que estivessem com dificuldade de pagar suas dívidas. Sendo esse último dever particularmente importante, uma vez que, quando um país deixa de pagar suas contas, cria-se um efeito dominó que pode desacelerar a economia mundial.


Fazendo uma analogia para esclarecer esse efeito, vamos assumir que um indivíduo seja um revendedor de um produto qualquer. Agora, confiante na prosperidade do seu negócio, ele decidiu gastar todo o seu capital para montar seu estoque. Felizmente, ele recebeu um pedido de um cliente, aparentemente confiável, que desejava comprar todas as suas peças. Imediatamente, nosso empreendedor aceitou a proposta, porém, o comprador, mesmo já tendo recebido o produto, declarou que não havia mais dinheiro para pagá-lo. Nesse momento, devido a inadimplência do consumidor, nosso indivíduo encontra-se sem estoque e sem capital para comprar mais produtos e investir no seu negócio. Além disso, a empresa de quem ele comprava as peças também se prejudica, pois perdeu um cliente, e assim por diante. Com isso, voltando para o panorama da época, claro que por nós estarmos tratando de países, as proporções são bem maiores. Entretanto a lógica é perfeitamente aplicável, especialmente devido ao fato de que na época os países europeus estavam com a economia arruinada devido a guerra e, por isso, tinham dificuldade para pagar suas contas sem um auxílio.


Outro ponto importante decidido foi que o dinheiro do fundo viria dos países participantes e aqueles com maiores contribuições teriam maior poder de voto em cima das decisões do órgão. À primeira vista, isso faz sentido, uma vez que seria o dinheiro daqueles países sendo utilizado para empréstimos. Entretanto, isso também põe umas das instituições mais estratégicas do planeta sob controle de um seleto grupo de nações, com destaque para os Estados Unidos que, por ser o país idealizador do projeto e maior contribuidor financeiro, é o único que possui poder de veto sobre as decisões tomadas.


Hoje em dia

Atualmente, com o fim do Padrão Ouro sobre os EUA em 1971 e a extinção da necessidade de supervisionar as taxas de câmbio como antigamente, é de se imaginar que essa instituição deixassem de existir ou, ao menos, mudasse suas atividades. E foi exatamente a segunda opção que aconteceu!


Desde quando a moeda norte americana deixou de ser lastreada pelo metal dourado, o FMI tem exercido um papel cada vez maior combatendo crises financeiras ao redor do mundo. O fundo, munido de diversos especialistas, oferece levantamentos estatísticos e previsões financeiras, tanto no panorama nacional dos seus 188 países membros como em escala global. Dessa forma, ele ajuda os países a organizar suas políticas econômicas e, consequentemente, a se desenvolverem.


Alvo de protestos

Assim como muitos dos assuntos relacionados ao meio político, a prática nem sempre é um retrato fiel da teoria. Apesar do nobre objetivo de tentar garantir o desenvolvimento econômico de todos os países, o fundo é frequentemente alvo de protestos.


Bolívia, Argentina, Ucrânia, Equador, Paquistão e Iraque. O que esses países têm em comum? Todos eles, em algum momento da história, pegaram dinheiro emprestado com o Fundo Monetário Internacional. Além disso, outro fato que coincide entre eles é que nenhum possui saúde financeira até os dias atuais… A lista não para por aí, são diversos os países que recorrem a empréstimos visando o desenvolvimento e acabaram piorando o panorama nacional. Uma prova disso é que desses seis países, metade voltou a pegar empréstimos em outra oportunidade.


Nesse momento você leitor pode estar imaginando: mas o FMI fez a parte dele, ofereceu os recursos necessários para o país crescer e se desenvolver. Caso isso não tenha ocorrido, é provável de que a culpa seja de quem recebeu o dinheiro e não de quem emprestou. Se você pensou nisso, faz sentido! Mas isso não é 100% verdade. É aqui que entra um dos principais pontos de discussão sobre o fundo.


Sempre que um país opta por pegar um empréstimo do FMI, o governo local se compromete a realizar diversas mudanças estabelecidas pelo próprio fundo. Mudanças essas que, sob a ótica da instituição, seriam necessárias para o desenvolvimento de qualquer nação. Entre esses pré-requisitos, encontram-se retirar privilégios de setores já que, de acordo com o agente internacional, oferecer vantagens competitivas para determinadas indústrias é errado, visto que torna a concorrência desleal. Outro ponto sempre abordado é que os países devem se comprometer a zerar seu déficit fiscal, ou seja, não gastar mais do que o arrecadado,o que geralmente é feito por meio de medidas anticorrupção e demissão de funcionários. Essas e outras demandas praticamente são um molde que é apenas reaplicado entre os países e que gera grandes discussões, visto que, muitas vezes, não são levadas em consideração todas as particularidades do solicitante.


Dado isso, essas obrigações exigidas pelo fundo não apenas o tornam muito mais responsável pelos resultados das políticas implementadas, como também refletem diretamente na sua popularidade, uma vez que para seguir tais medidas muitos governos se veem obrigados a cortar gastos públicos, especialmente programas de auxílio à população. Dessa forma, muitas pessoas relacionam o FMI com o fim desses privilégios.


Um caso que chama a atenção é o da Ucrânia. O país vinha sofrendo grandes perdas econômicas em 2014 como resultado das políticas públicas aplicadas e dos conflitos com a Rússia pela Crimeia. Nesse contexto, para evitar a quebra do país, o FMI ofereceu um empréstimo de 13 bilhões de dólares. No entanto, juntamente com o dinheiro, vieram obrigações a serem cumpridas, entre elas, aumentar tarifas sobre os estratégicos gasodutos russos que atravessam o país para abastecer a Europa e estabelecer medidas contra corrupção. Mesmo assim, a ineficácia da aplicação do capital adquirido fez com que outro empréstimo fosse tomado (acumulando 33 bilhões em dívidas com o fundo). Dessa forma, os problemas da economia ucraniana persistem e a população enxerga com maus olhos o papel do FMI que gerou um enorme débito a ser pago e não trouxe retorno a população.



Por fim, vale ressaltar que já houveram países que conseguiram se desenvolver e hoje possuem grande relevância internacional graças a investimentos do fundo, essa exceção corresponde aos Tigres Asiáticos (Hong Kong, Coréia do Sul, Singapura, Taiwan). Esse seleto grupo de países conseguiu combinar os recursos oferecidos pelo fundo com um plano político de investimento nos setores básicos da sociedade e uma forte abertura econômica para, assim, verem suas economias crescerem exponencialmente a longo prazo. Atualmente esses países são sedes de grandes empresas, como Samsung e Hyundai, sendo referência mundial no quesito desenvolvimento.


Em suma, podemos observar que o fundo possui exemplos de atuações desastrosas, bem como de experiências bem sucedidas. Fora isso, ele é uma das principais instituições de análise da economia mundial, disponibilizando gratuitamente perspectivas econômicas para todos o países. Apesar disso, sua impopularidade vem crescendo cada vez mais devido as exigências que são feitas para os países que se interessam pelos empréstimos. Sendo assim, estaria o mundo melhor sem o FMI?

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