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NFL Money: como o futebol americano se transformou em um negócio bilionário

Atualizado: 12 de abr. de 2021



E se alguém te perguntasse qual esporte mais fatura no mundo? Você provavelmente pensaria em futebol, devido a sua enorme popularidade, não somente no Brasil, mas também em todo o planeta, certo? No entanto, a verdade não é bem essa. Surpreendentemente, existe um campeonato que consegue gerar mais receita que as 4 principais ligas de futebol juntas, chegando a um valor aproximado de 15 bilhões de dólares anuais: o campeonato de futebol americano dos Estados Unidos, popularmente conhecido como NFL (National Football League). Como será que essa liga conseguiu chegar nesse patamar? O que que ela faz para movimentar tanto dinheiro? Será que ela faz algo para inovar e se diferenciar das demais?


O COMEÇO DE TUDO

O futebol americano não surgiu com a criação da NFL. A fundação da National Football League ocorreu justamente para organizar e regulamentar melhor o esporte, que antes possuía uma logística caótica de marcação de jogos e transferências de jogadores. Preocupado com o que seria o futuro do esporte profissional (ou a ausência dele), Ralph E. Hay, dono de uma concessionária de automóveis e dos Canton Bulldogs (um dos times da época), reuniu os proprietários de outros 10 times no salão onde exibia seus automóveis para a venda. Foi nesse espaço sujo e precário que os 11 donos chegaram a um acordo e fundaram a American Professional Football Association, a qual foi renomeada para National Football League dois anos mais tarde.


A ORIGEM DO DINHEIRO

Todo esse capital que a liga movimenta tem várias fontes diferentes, porém mais da metade desse valor (8.1 bilhões de dólares) é proveniente dos seus contratos com as emissoras de televisão. Essa não é uma informação inesperada, pois o futebol americano é, por muito, o esporte mais assistido pelos norte-americanos. Para se ter uma ideia, 19 das 20 transmissões de televisão de maior audiência da história dos EUA são Superbowls (nome que recebe a final da NFL). Além disso, é a liga com mais fãs nos Estados Unidos, com 139 milhões de adeptos, estando 56 milhões à frente da MLB (liga de baseball), que está na segunda colocação. Nesse contexto, a NFL tem contratos de transmissão com 4 diferentes emissoras: CBS, Fox, NBC e ESPN. Em 2011, as três primeiras concordaram em pagar a NFL um valor total de 39.6 bilhões de dólares cada entre as temporadas de 2014 e 2022 pelos direitos de transmissão do Superbowl e do “Sunday Night Football”, nome que recebe os jogos transmitidos no horário nobre de domingo.


Em comparação, a MLB, que assinou recentemente um acordo de 7 anos com a Fox pelos direitos de transmissão, receberá “apenas” 5.1 bilhões de dólares, um valor ínfimo em relação ao da liga de futebol americano. Não só isso, também foi estabelecido que a quantia paga por essas empresas crescerá a uma taxa de 7% ao ano, de forma que em 2022 cada uma vai pagar um valor de 3.1 bilhões de dólares, somando, ao final dos nove anos, a quantia de 39.6 estabelecida inicialmente. Por outro lado, a ESPN possui um contrato relativamente mais modesto: em 2011 ela concordou em desembolsar 15.2 bilhões de dólares até 2021 em troca da exclusividade de transmissão do “Monday Night Football”, nome dado aos jogos transmitidos no horário nobre de segunda-feira.


Um dos motivos que faz essas emissoras pagarem esse valor astronômico é, obviamente, o Superbowl e seu enorme potencial de arrecadar dinheiro via publicidade. Muitos já ouviram falar dos seus famosos comerciais, que são extremamente custosos para as empresas que querem divulgar a própria marca. Em 2018, um anúncio de 30 segundos custava cerca de 5.3 milhões de dólares, um aumento muito grande se considerando que na temporada regular publicidades do mesmo tipo valem 625 mil. Ainda por cima, a tendência é que esses valores se tornem ainda maiores ano após ano, considerando que a concorrência por eles é cada vez mais acirrada.


Além disso, a NFL também faz dinheiro comercializando para outras empresas o direito de vender seus produtos oficiais. Em 2018, por exemplo, a liga (em parceria com a Nike) assinou um contrato de 10 anos com a varejista Fanatics, tornando-a fabricante exclusiva de todos os produtos Nike vendidos em sua loja online oficial. Os valores exatos deste contrato não foram divulgados, mas muito provavelmente também chegam na casa dos bilhões. Segundo a Navigate Research, uma empresa especializada em estimar os investimentos esportivos, acordos desse tipo representam cerca de 10% da receita anual da NFL, algo em torno de 1.5 bilhões de dólares.


Ademais, uma outra fonte de arrecadação se dá com a venda de ingressos, ainda que represente uma parcela menor do dinheiro arrecadado pela liga. Tal participação pequena ocorre principalmente devido ao seu pequeno potencial de crescimento aparente, uma vez que os estádios, com capacidade total média de 70 mil pessoas, normalmente já ficam lotados. Além disso, o valor médio dos ingressos cresceu cerca de 7% ao ano desde a virada do século (de 30 dólares em 2000 para 116 dólares atualmente). Os times, entretanto, estão sempre buscando maneiras de aproveitar ainda mais a oportunidade de fazer dinheiro. Esse foi o caso do Green Bay Packers, time que, desde 2010, gastou mais de 370 milhões de dólares modernizando a sua “casa”, o que incluiu um aumento de 12% na sua capacidade de ocupação. O resultado disso? Um salto na receita anual oriunda da venda de ingressos de 48 para 71 milhões de dólares.


Por fim, uma boa fatia desse dinheiro também é proveniente dos patrocínios. Em 2018 a NFL arrecadou 1.3 bilhões de dólares somente dessa forma. Da quantia, os contratos de maior valor são os de naming rights, que dão o direito de nomear os estádios. De acordo com o New York Times, os acordos para dar nome aos estádios Met Life em Nova Iorque e AT&T em Dallas, por exemplo, valem 19 milhões ao ano cada.


OBSTÁCULOS

Contudo, mesmo com recordes de audiência, a liga ainda tem um série de problemas que afetam tanto o número de telespectadores quanto a quantidade de pessoas que querem se tornar jogadores profissionais de futebol americano. Algumas dessas adversidades são o grande número de lesões causadas pela agressividade do esporte e também a parcela considerável de ex-jogadores da NFL envolvidos em escândalos legais como uso de drogas, violência doméstica e até mesmo assassinatos. Tais fatos atribuem, para muitos, uma ideia de violência à liga, e servem como um forte desestímulo para praticar e assistir o esporte. Não só isso, alguns anos atrás, a NFL passou por um episódio que foi um choque para muitos e, assim como esses outros problemas, contribuiu para uma queda no número de fãs.


Em 2016, antes de um dos jogos da temporada, o jogador Colin Kaepernick ajoelhou-se durante o hino nacional, em forma de protesto contra o racismo e a injustiça racial na sociedade norte-americana. Ali começava um movimento que se espalharia pela liga inteira, visto que, após esse caso inicial, centenas de jogadores de diferentes times seguiram o exemplo e começaram a realizar o mesmo ato. Os casos cresceram tanto que até o presidente Donald Trump se pronunciou, dizendo que esses episódios deveriam parar imediatamente, pois se tratavam de um desrespeito à bandeira dos Estados Unidos, além de sugerir que as pessoas boicotassem a NFL até que a liga tomasse ações mais severas e punisse os envolvidos nos protestos. Como resultado, houve uma forte redução na audiência dos jogos e na venda de produtos oficiais.


Isso gerou um problema sério para liga, uma vez que, como dito anteriormente, sua principal fonte de receita é o estabelecimento de contratos de televisão. Ter menos telespectadores significa ter menos contratos ou ter contratos de menor valor. Portanto, eles implementaram uma série de medidas para coibir isso e começaram a punir os jogadores que se ajoelhassem durante o hino, principalmente através de multas. Tal medida não se mostrou muito eficiente a princípio, porém, com o tempo, o movimento foi perdendo força e a audiência voltando ao normal, para alívio da NFL e, principalmente, do comissário geral Roger Goodell.


O QUE SE PODE ESPERAR

Essa busca por um aumento constante na arrecadação de dinheiro se mostra no anúncio de Roger Goodell, que estabeleceu a meta de uma receita de 25 bilhões de dólares anuais até 2027, o que corresponde a um crescimento por ano de 6%. Para fazer isso, ele vai seguir o exemplo de muitos negócios de sucesso, buscando sempre a inovação de diferentes maneiras.


Um exemplo de ação visando esse objetivo é o streaming. Em 2017, a Verizon, a maior operadora de celulares nos Estados Unidos, assinou um contrato com a NFL no valor de 2.5 bilhões de dólares pelo direito de streaming num período de 5 anos. Essa é uma quantia duas vezes maior que a acordo anterior entre ambas as partes e garante à empresa os direitos de transmissão de todos os jogos da temporada regular. Seguindo o mesmo caminho, a Amazon assinou um contrato semelhante em abril de 2018. Esses números parecem baixos quando comparados aos que já vimos, no entanto a expectativa é que eles cresçam rapidamente ao longo das próximas décadas, seguindo o padrão dos direitos de imagem da televisão.


Outro mercado que a NFL planeja explorar ao longo dos próximos anos é o de apostas esportivas. A Suprema Corte norte-americana decidiu deixar os estados optarem por legalizar ou não essa atividade, e, desde então, 15 estados já escolheram por torná-la 100% legal. Seguindo a onda do Legislativo, as oportunidades são infinitas: colocar salas de apostas nos estádios, parcerias com cassinos famosos, criar o seu próprio site de aposta online, entre outros meios que permitam a liga explorar esse negócio das apostas esportivas que circula mais de 150 bilhões de dólares por ano somente nos Estados Unidos. O primeiro passo nessa direção já foi dado: a liga assinou um contrato com o Caesars, seu primeiro cassino parceiro, que agora possui o direito de usar a NFL para divulgar sua marca nos EUA e no Reino Unido.


Além disso, a NFL também possui um projeto para expandir a sua marca para outros países, como foi o caso no México e na Inglaterra. O meio mais eficaz que ela encontrou de fazer isso foi com a realização de jogos da temporada regular fora dos Estados Unidos. Desde 2007 foram 28 partidas realizadas em Londres e 4 na Cidade do México. A medida, cuja a clara intenção é divulgar o esporte nesses países, obteve sucesso e o número de fãs internacionais do esporte cresceu consideravelmente ano a ano, após esses jogos começarem a ser realizados. O sucesso dos jogos internacionais é tanto que fez o comissário geral anunciar que pretende realizar partidas na Alemanha e China. Não só isso, a grande quantidade de fãs brasileiros também despertou o interesse da NFL em realizar uma partida no Brasil. No ano passado, o vice-presidente de desenvolvimento internacional da liga foi à cidade de São Paulo e visitou 3 diferentes estádios que podem acabar sendo palcos de um jogo de futebol americano em um futuro próximo.


Com contratos bilionários que tendem a aumentar cada vez mais com o passar dos anos, conseguimos perceber a força do futebol americano na sociedade estadunidense e também no mundo dos negócios. Acima de tudo, deve-se conceder muito mérito à liga por ter uma visão empreendedora capaz de sempre inovar, se adaptando às tendências e aos gostos dos fãs. Afinal, não podemos subestimar o poder do mercado esportivo dos Estados Unidos, sobretudo a força da NFL que, de uma sala suja em Canton, acabou por se tornar um dos negócios mais lucrativos do mundo.

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