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Petróleo: combustível do presente, ameaça do futuro

Atualizado: 12 de abr. de 2021



Aumento de 20% no preço em questão de horas. Ascensão de pessimismos e tensões internacionais. Instabilidade nos mercados financeiros. Essas foram apenas algumas das consequências mais imediatas de um ataque a uma das principais plantas fornecedoras de petróleo do mundo. As reações ao atentado realizado contra a AramCo, empresa petrolífera saudita, contribuíram para evidenciar a grande dependência global a combustíveis fósseis e o quanto eles afetam nossa vida. Essa não é a primeira vez - e muito provavelmente não será a última - que um conflito geopolítico prejudica a oferta do combustível fóssil.


Crises do Petróleo

Para entender melhor essa questão, podemos observar que a variação do preço do barril de petróleo ao longo do tempo. Durante a história houveram alguns picos no valor do combustível e, fazendo uma análise das datas em que ocorreram, notamos que coincidem com algum evento geopolítico internacional.



Fonte: Macrotrends

Em 1973, por exemplo, tivemos a Guerra do Yom Kippur. O conflito entre Síria, Egito e Israel foi finalizado cerca de 20 dias depois do seu início; principalmente devido a intervenção dos EUA, da União Soviética e da ONU. Uma das principais consequências dessa guerra foi o aumento em 400% dos preços do petróleo estabelecido pela OPEP (Organização dos Países Exportadores de Petróleo) para as nações que apoiaram os israelenses. Outras situações semelhantes ocorreram ao longo da história, mas é interessante destacar a Guerra do Golfo em 1991. O Iraque, governado por Saddam Hussein, que havia invadido o Kuwait (um dos maiores produtores de petróleo do mundo) no início da guerra, ao ser forçado a sair do país, incendiou diversos poços de petróleo. Dessa forma, gerou-se não só uma crise econômica, como também ambiental.


Esse evento levanta uma outra grande preocupação associada ao uso desses combustíveis, além de toda sua vulnerabilidade a questões políticas. Desde sua extração até sua queima, eles são responsáveis por causar severos danos ambientais. Mesmo com isso tudo, por que será que eles ainda são as fontes de energia mais utilizadas no mundo? Por que nós não usamos apenas energias renováveis, como a solar e a eólica?


Fonte: Agência Internacional de Energia (AIE)

*Abrange eólica, solar, biocombustíveis e outros


O lado bom dos Combustíveis Fósseis

Quando comparamos essas fontes de energia àquelas renováveis mencionadas anteriormente, percebemos claras vantagens derivadas de um fator primordial: tempo de uso. Mais especificamente tempo pelo qual o homem vem usando essas fontes.


Os combustíveis fósseis começaram a ser usados em massa na Primeira Revolução Industrial (o carvão, nesse primeiro momento). Isso significa que há quase dois séculos a humanidade vem desenvolvendo tecnologias para extrair, armazenar, transportar e utilizar energia proveniente de petróleo, carvão e gás natural. Assim, já desenvolvemos bastante os meios estabelecidos e o "know how" necessário para realizar essas atividades como oleodutos, torres de fracionamento e formas de localizar reservas. Agora, quando falamos das energias solar e eólica, as pesquisas para a criação de tecnologias somente se intensificaram na metade do século passado, ou seja, há pouco mais de 50 anos. Ainda existe, portanto, um longo caminho a ser percorrido de modo que as mesmas cheguem no nível e tornem-se amplamente distribuídas como as dos combustíveis fósseis.


Algo que agrava a questão levantada anteriormente é a localização dessas fontes de energia no planeta. É fato que combustíveis fósseis não são distribuídos de forma homogênea, até porque se fossem, os conflitos já mencionados e as oscilações propositais sobre o preço dos mesmos não fariam muito sentido. Cerca de 80% das reservas acessíveis de petróleo encontram-se no Oriente Médio. Isso dá a esses países um elevado poder de barganha político e econômico, uma vez que controlam a oferta, e consequentemente o preço, da commodity mais essencial de todas. Entretanto, mais uma vez, tivemos mais de 200 anos para criar a infraestrutura, logística e mecanismos regulatórios necessárias para a distribuição global deles. O mesmo não ocorreu com o Sol e os ventos que, apesar de estarem presentes em praticamente todo o globo, tornam-se mais interessantes apenas se explorados em determinados locais (como desertos, no caso da energia solar) e mesmo nesse lugares "ideais" a eficiência de geração de energia não costuma ultrapassar os 25%.


Soma-se a isso o fato serem classificadas como fontes de energia intermitentes, ou seja, que não podem ser armazenadas na sua forma original (diferente dos combustíveis fósseis). Desse modo, surge a necessidade de utilizá-las para gerar energia imediatamente à partir do momento que estiverem disponíveis. Essa energia deve ser transportada diretamente para os seus consumidores ou "estocada" de alguma outra maneira. Contudo, existem diversas desvantagens associadas a essas duas possibilidades. As principais são o grande custo envolvido e as perdas energéticas. Tratando-se de transporte, as perdas se concentram sobretudo quando levamos em consideração o deslocamento de grandes núcleos de produção energética até os principais centros consumidores. Isso se dá majoritariamente devido ao fato de esse núcleos se instalarem em locais isolados. O Brasil, por exemplo, costuma perder cerca de 20% da sua energia nas linhas de transmissão e, quanto mais extensas essas forem, maiores serão as perdas.


Por fim, ao compararmos os custos envolvidos com a produção de energia de diferentes fontes, percebemos que o custo atrelado, em alguns casos, chega até a ser menor para energia solar e eólica do que para aquela derivada de combustíveis fósseis. Todavia, o elevado investimento inicial necessário para a utilização dessas energias renováveis faz com que isso não seja uma realidade para todos os países. Além disso, a grande maioria das nações já tem a infraestrutura necessária para gerar energia para sua população (aquela infraestrutura e logística dos combustíveis fósseis desenvolvidas por dois séculos) e muitas não apresentam cenários climáticos adequados para geração de energia por fontes renováveis nem condições financeiras para realizar o investimento (ou sua população não conseguiria pagar por energia mais cara), como Benim e Bangladesh. Explica-se, portanto, o porquê da adoção de energias renováveis não ser prioridade de muitas nações atualmente, e talvez de fato não o deva ser.


O que o futuro nos diz?

Percebemos que, apesar do modelo atual de uso intensivo de combustíveis fósseis gerar sérios impactos sociais, ambientais e políticos, ainda não podemos substituí-los por energias renováveis. Um grande desenvolvimento de tecnologias é preciso a fim de tornar isso possível em um futuro próximo. Felizmente, estamos dando cada vez mais passos nessa direção com diversas inovações visando mitigar as restrições dessas fontes renováveis. Um exemplo, é o uso de blockchain e inteligência artificial (IA) ligados a painéis solares. A ideia é permitir que as pessoas comprem e vendam energia produzida pelos painéis entre si, sem necessitar de um intermediário, utilizando IA para definir o melhor momento de realizar essas ações e aumentar a eficiência do uso. Além disso, temos a criação de programas de computador para modelar a dinâmica dos ventos e fazer uma previsão do retorno potencial de um parque eólico sem ter que de fato instalá-lo. Esses e outros avanços vêm gerando uma visão otimista por parte de diversas instituições, sendo cada vez mais frequentes previsões como a seguinte:


Fonte: BloombergNEF

Portanto, a principal tendência é que a partir do desenvolvimento e aperfeiçoamento dessas tecnologias ocorra a redução dos custos de energias renováveis. Desse modo, elas tornam-se mais atrativas e mais acessíveis em escala global.


A transição energética viabilizada pela adoção dessas novas tecnologias acarretará diversos impactos. Podemos destacar alguns: os grandes países exportadores de petróleo como Arábia Saudita e Iraque terão seu poder de barganha atenuado ou até mesmo extinto e entrarão em ascensão outros players associados a geração das energias renováveis. Podemos pensar aqui no caso do Brasil, que é uma das referências no uso de energias renováveis com cerca de 80% da sua matriz elétrica composta por elas. Existe uma perspectiva bem mais democrática associada ao seu "controle" principalmente pelo fato de ser possível que indivíduos produzam e utilizem sua própria energia. Diversos empregos deixarão de existir, mas ao mesmo tempo vários novos serão criados. Teremos uma redução na emissão de gases poluentes, mas teremos que lidar com outros impactos ambientais como descarte de materiais. A realidade é que existem infinitas possibilidades e incertezas associadas ao futuro de geração de energia, porém algo é certo: os combustíveis fósseis exerceram, e ainda exercem, um papel muito importante na história humana. Agora, estamos vivenciando uma era nunca antes vista: a de suas substituições.

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