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Produtividade Brasileira: Um Problema Estrutural

Atualizado: 12 de abr. de 2021



Já parou para pensar por que algumas pessoas conseguem realizar uma mesma tarefa mais rápido que outras? E no quanto isso pode impactar na economia de um país? Afinal, uma produtividade mais alta é o elemento-chave para uma maior produção, elevando o nível de riqueza de um Estado, o que, consequentemente, pode reduzir a desigualdade. Ao olhar o caso do Brasil, observa-se que quatro trabalhadores têm que realizar concomitantemente uma mesma tarefa para se equiparar ao desempenho de apenas um cidadão dos Estados Unidos. Com isso, é válido refletir sobre quanto essa ineficiência atrapalha a nação brasileira, impedindo-a de se tornar o país do futuro sobre o qual, há décadas, se fala.


A Importância da Produtividade

Antes de entender a sua importância, é fundamental compreender como essa questão impacta a renda das pessoas. Primeiro, pode-se olhar para o Produto Interno Bruto como uma forma de medir a riqueza de um Estado: o PIB é a soma de todos os bens e serviços comercializados em determinado país durante um certo espaço de tempo, normalmente de um ano. Uma forma de usar essa métrica a fim de analisar uma ação de forma mais eficiente é calculando o PIB per capita, ou seja, a sua divisão pelo número de habitantes do território. Com isso, é possível avaliar o quanto cada pessoa daquele país teria, em média, de riqueza produzida naquele período. É importante ressaltar que, mesmo que ele não seja repartido de forma homogênea, devido à desigualdade, é fundamental elevar o valor do PIB per capita, para que haja mais riqueza para ser distribuída dentre a população.


Tendo em vista sua importância, há duas principais formas de aumentá-lo: a primeira é com o incremento da produtividade dos trabalhadores - já que há, consequentemente, uma maior produção na economia - enquanto a segunda é com uma proporção maior da população na força de trabalho - afinal, se há mais pessoas trabalhando, um número maior de bens e serviços tende a ser ofertado. Com o gráfico abaixo, é possível observar a variação do PIB per capita brasileiro nas últimas décadas, que teve uma taxa de crescimento anual composta de 3,5% (CAGR) - um valor menor do que os 4% ao ano da média mundial.

Em relação a esses números, um relatório do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) indicou que, na década de 2000, entre 30 e 50% desse crescimento ocorreu unicamente por causa do aumento da parcela da população trabalhando, o que não está atrelado ao aumento da produtividade. Isso aconteceu devido ao crescimento populacional do país, com um aumento da População Economicamente Ativa (PEA), fortalecendo a atividade econômica. Entretanto, em decorrência da transição demográfica brasileira esse valor tende a diminuir gradativamente pelos próximos anos. Dessa forma, com a taxa de natalidade diminuindo, consequentemente menos jovens ingressarão no mercado de trabalho.

Dado isso, é importante focar no jeito mais eficiente de se aumentar o PIB per capita a longo prazo: o aumento da produtividade. Por essa razão, é fundamental elevar esse indicador, embora isso seja um grande desafio a ser superado pelo país.


O Problema da Produtividade no Brasil

Considerando essa necessidade de incremento, deve-se analisar alguns problemas que fazem a produtividade do trabalhador brasileiro ser tão insatisfatória. O primeiro é referente ao baixo nível educacional no país. Um cidadão brasileiro recebe, em média, 30 horas de qualificação por ano - um valor quatro vezes menor do que o observado nos Estados Unidos. Além disso, 52,6% da população acima de 25 anos não concluiu o Ensino Médio, porcentagem bem maior, por exemplo, do que os 10% vistos nos Estados Unidos ou até dos 43% vistos nos adultos do Chile - país latino-americano que tem uma produtividade 61% superior à brasileira.


Embora o nível de escolaridade tenha melhorado com o tempo - passando de 7,4 anos médios de estudo por pessoa em 2011 para 9,3 em 2018 -, a qualidade educacional ainda é relativamente insatisfatória. As notas brasileiras são significativamente piores no Pisa - exame internacional de avaliação dos estudantes - do que as de vários outros países, como os da Organização para a Cooperação e Crescimento Econômico (OCDE), com exceção do Peru. Essas notas inferiores evidenciam a deficiência educacional brasileira.

Ademais, pode-se falar sobre a ineficiência da economia brasileira. Todas as normas, legislações e tributações específicas - que formam o chamado “Custo Brasil” - tornam o ambiente de negócios repleto de problemas e inseguranças jurídicas. Isso, somado à falta de infraestrutura do país, torna extremamente complicado e custoso para as empresas atuarem no território. Com o intuito de ajudá-las, o governo brasileiro tentou subsidiar uma série de setores, a fim de preservar a existência de algumas companhias e impor barreiras à competição estrangeira. Essas medidas contribuíram para tornar o Brasil um dos países mais fechados do mundo, com trocas comerciais - sejam importações ou exportações - representando apenas 28% do PIB, um valor bem menor do que os 59% da média mundial.


Entretanto, embora tivessem o intuito de ajudar a economia nacional, essas ações protecionistas vêm se mostrando ineficientes, pois desencorajam a concorrência entre as empresas do país - já que beneficiam apenas algumas em detrimento de outras, o que desestimula inovações benéficas ao consumidor. Isso faz com que os consumidores tenham que pagar preços elevados por produtos de pior qualidade, contribuindo para a baixa qualidade de vida da população. Além disso, não há incentivo ao aumento da produtividade, já que as empresas se estabilizam no mercado, sem a necessidade de investimentos para melhorar a capacidade dos trabalhadores e dos processos da companhia.


Ademais, existe a dificuldade de se contrair crédito no Brasil. Um do grandes problemas históricos da nação são as altas taxas de juros que, mesmo estando em queda, continuam maiores que as de diversos outros países, que instituíram, inclusive, juros negativos.

Além disso, o país também tem um dos maiores spreads bancários - diferença entre a taxa de juros do banco central e a dos bancos comerciais - do mundo. Com isso, a capacidade de obtenção de capital por parte das empresas é prejudicada, já que elas têm que pagar taxas mais altas e os investidores exigirão maiores retornos para efetuar esses empréstimos.


Isso ocasiona a falta de investimento em tecnologia nas empresas. Essa dificuldade de angariar recursos e operar um negócio no Brasil resulta em uma série de ineficiências e má alocações de capital por parte das companhias, que não conseguem investir seu tempo e dinheiro para melhorar aspectos fundamentais de sua operação, consequentemente diminuindo sua produtividade.


Possíveis Soluções

Tendo em vista as questões levantadas, é necessário, primeiramente, um investimento mais eficiente na educação pública. A reforma do ensino médio, com a adoção de uma maior flexibilização da grade horária, como feita pelo México e Portugal, pode ser uma medida eficiente para reduzir o abandono escolar. Isso também incrementaria o aprendizado dos adolescentes nos colégios, uma vez que oferece uma maior possibilidade de escolha aos alunos.


Contudo, essa mudança tem que ser implementada de maneira adequada nas escolas públicas, especialmente para que as parcelas mais pobres tenham acesso a conteúdos de qualidade e que as possibilitem ascender nas faixas de renda. Afinal, um ano a mais de ensino para um trabalhador resulta em um aumento médio de 10% do seu salário, possibilitando um incremento na sua qualidade de vida, segundo a instituição de pesquisa americana Brookings.

Ademais, a expansão do ensino técnico é fundamental para que haja uma maior produtividade, pois existe uma relação direta entre a capacitação das pessoas com o quanto produzem e, consequentemente, ganham. Por exemplo, apenas 9% dentre os jovens que não acessam o nível superior no Brasil cursam o ensino técnico, um valor quase 5 vezes menor do que os 44% vistos no países membros da OCDE. Esses apresentam índices educacionais e de produtividade muito superiores, já que dispõem, dentre outros aspectos, de trabalhadores mais qualificados.


Já em relação à ineficiência da economia brasileira, é importante que o país se integre de maneira mais efetiva com o comércio mundial. Um crescimento de em torno de 7% nas importações e exportações, por exemplo, resultaria em um aumento permanente no PIB de 1% e geraria 400 mil novos empregos internos, segundo o Banco Mundial. Além disso, a redução das tarifas e barreiras sobre as importações - de maneira gradual, para que as empresas brasileiras consigam investir e se preparar para a mudança - aumentaria a concorrência. Essa maior competição resultaria em uma elevação da produtividade, tornando os preços menores e concebendo um número maior de empregos no geral, com melhores salários - incrementando os rendimentos reais das famílias, incluindo os das parcelas mais pobres da população.


Além disso, é necessário simplificar ao máximo as regras e benefícios tributários e fiscais que existem dentro do país. A unificação de impostos e descomplexificação dos gastos governamentais, por meio das reformas tributária e fiscal, são fundamentais para que haja uma maior facilidade de se realizar negócios no país, minimizando os custos e melhorando a alocação de capital das empresas. Com essas medidas, ocorreria um incremento da produtividade, como pode ser observado em diversos países ao redor do mundo.

Ademais, existe o problema das altas taxas de juros cobradas pelos bancos às empresas. Elas poderiam ser contornadas por meio de um programa de incentivos mais especializado e eficiente por parte do governo, concedendo um acesso mais barato e rápido ao crédito a companhias que estão sendo concebidas e necessitam de capital para crescer. Isso aumentaria tanto as inovações por parte das firmas quanto a competição entre elas, devido ao fortalecimento do empreendedorismo, resultando em um número maior de pequenos e médios negócios. Embora programas como esses já existam, como os feitos pelo BNDES, em muitos momentos apenas empresas grandes e já estabelecidas se beneficiam deles, o que reduz os impactos do financiamento para empresas que estão sendo criadas.


Com acesso ao crédito e custos menores e menos complexos, as companhias conseguiriam ter mais capacidade para quitar suas dívidas e alocar o seu capital nos setores que realmente são necessários para desenvolvê-las. Um exemplo seria o investimento na área de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D): uma aplicação de longo prazo, mas necessária para que as empresas continuem melhorando sua operação constantemente, além de fornecer ferramentas e capacitações para os funcionários produzirem mais. Isso ajudaria empresas menores e estimularia, novamente, a concorrência, aumentando a produtividade e beneficiando a população.


Um Longo Caminho

A discussão sobre a produtividade brasileira, embora já exista, ainda é muito menos frequente do que deveria ser. A sua importância é, muitas vezes, subestimada, mas se o Brasil elevasse a sua produtividade para níveis dos Estados Unidos, sem outras alterações, a renda per capita da população aumentaria 2,7 vezes, segundo o Banco Mundial. Isso possibilitaria uma maior riqueza para a nação, representando a possibilidade de um grande crescimento na qualidade de vida das pessoas.


Por isso, a produtividade é uma das questões fundamentais para desenvolver o país e possibilitar um incremento no nível de renda da população, especialmente dos trabalhadores que conseguiriam melhores salários. Porém, para que isso ocorra, o país do futuro deve deixar de ser apenas um sonho e se tornar o país do presente, com a espera dando lugar a atitude.


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