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Taxa Cambial: o que é e como me afeta?


Recentemente, a moeda brasileira foi marcada por uma grande valorização frente ao dólar, acontecimento que ganhou destaque em todas as manchetes nacionais. Dessa forma, é comum que diversas pessoas estejam acompanhando a cotação do real frente à moeda estadunidense, seja por tal visibilidade ou por interesse próprio. De qualquer modo, a maioria não compreende de fato como ou o porquê dessa relação impactar tanto a economia de um país e, consequentemente, o dia a dia das pessoas.


Junto a isso, surgem outros questionamentos, como: por que o dólar disparou na pandemia? E, mais ainda, porque ele voltou ao patamar de 4,70 em 2022? A perspectiva é boa ou ruim? A partir disso, este artigo visa facilitar o entendimento de como funciona esse complexo sistema e de como ele pode impactar a sua vida.


Taxa de câmbio: o que é?


Ela é o preço de uma moeda estrangeira em unidades ou frações (centavos) de uma moeda nacional, neste caso, o real. Por exemplo, se a taxa de câmbio do dólar é 3,10, significa que um dólar norte-americano custa R$ 3,10, refletindo o custo de uma moeda em relação à outra.


Tipos de taxas


Ademais, também é importante compreender outros conceitos básicos das taxas cambiais, de modo a tornar o assunto mais claro:

  • Taxa de compra e venda

Elas possuem como referência a instituição financeira na transação. Assim, se uma pessoa física deseja comprar moeda estrangeira junto a uma instituição autorizada, como casas de câmbio, essa entidade estará vendendo e, portanto, a taxa ofertada será a de venda. Já se a pessoa física quiser vender moeda estrangeira e a instituição comprar, a taxa será de compra. Resumidamente, a taxa considera as ações das instituições.


É válido ressaltar que a taxa de câmbio é negociada livremente por quem compra e por quem vende. Dessa forma, o Banco Central apenas divulga uma média da taxa praticada entre as instituições financeiras (PTAX¹) que negociam em dólar, sendo uma referência para os envolvidos e não uma obrigação a ser seguida.

  • Câmbio comercial e câmbio turismo

É possível notar que o dólar comercial e o dólar turismo possuem valores distintos, no qual o último é sempre mais caro. Mas por que isso ocorre?




Primeiramente, esses termos são utilizados para indicar os diferentes conjuntos de taxas utilizados durante uma operação, tendo como base a natureza dela. O "câmbio turismo" classifica as operações relativas à compra e venda de moeda para viagens internacionais, geralmente em espécie. Já o "câmbio comercial" indica ações realizadas apenas por empresas, como: exportação, importação e transferências financeiras.

Para entender a diferença de valor, é importante lembrar que o preço pago pelo dólar considera custos administrativos e financeiros. Um dos motivos para o turístico ser mais caro é que as pessoas físicas compram volumes menores que as empresas e os bancos, então, os custos administrativos, proporcionalmente, são maiores nessas operações. Além disso, há as taxas de transação de cada corretora, além do próprio lucro da casa de câmbio. Por fim, cabe a ressalvar de que o dólar comercial não pode ser comprado por pessoas físicas. Essa proibição é determinada pelo próprio Banco Central do Brasil, restringindo as transações desse tipo a somente 182 instituições, indo de bancos à corretoras credenciadas, que devem seguir uma série de regras impostas pela autoridade financeira.


Regimes Cambiais

Regimes cambiais são regras e acordos que determinam a taxa de câmbio e têm o objetivo de equilibrar a economia de um país. O principal sistema cambial existente é o flutuante sujo. Ele é adotado pela maioria dos países economicamente desenvolvidos e possui como principal característica a ausência de controle ostensivo do governo, via Banco Central, na compra e na venda de moedas, que passam a ser definidas pela oferta e demanda do mercado.

O seu funcionamento, na prática, se dá dessa forma: quando se registra mais entrada do que saída de dinheiro estrangeiro no país, a tendência é a valorização da moeda nacional. Por outro lado, quando a saída da moeda estrangeira cresce, o câmbio nacional é desvalorizado. Quando falamos em moeda estrangeira, nos referimos principalmente ao dólar, que é a de maior influência no mundo.

O que afeta esse fluxo?


Esse movimento ocorre não somente por meio das compras e vendas realizadas pelos dealers² de câmbio e pelo fluxo de capital do mercado financeiro (investimentos, empréstimos, fluxos de pagamentos), mas também depende do patamar de exportações e importações, operações que impactam diretamente na oferta e na demanda da moeda nacional de um país. Além disso, as taxa básicas de juros interna (Taxa Selic, no caso do Brasil), das taxas básicas de juros das outras principais economias, do turismo nacional, da política fiscal e monetária vigentes e do contexto econômico do país como um todo.

Além disso, no regime de câmbio flutuante, o Banco Central acompanha as oscilações da moeda e, a partir disso, pode exercer a política monetária, definindo o patamar da taxa de juros ou realizando a venda de dólares da sua reserva internacional.

A taxa de câmbio e a inflação caminham de mãos dadas


Pode não ser evidente, mas ambos os fatores são extremamente interligados. Para deixar explícita essa relação, tem-se um exemplo com um cenário macroeconômico no qual o dólar está em alta. Primeiramente, dois aspectos serão afetados:

  1. Por uma ótica empresarial, vale mais a pena vender commodities para o exterior. Isso porque os estrangeiros irão comprar em dólar e, quanto mais valorizada for essa moeda em relação a utilizada nacionalmente, maior será o lucro devido a essa diferença cambial. Não à toa, esse cenário é extremamente positivo para companhias exportadoras, como a Vale e a Petrobras, que tendem a obter grandes lucros nesses períodos. Em 2021, por exemplo, ano em que o dólar se manteve quase 9 meses acima de R$ 5,00, houve o maior lucro da história da mineradora e da petroleira. A problemática de toda essa situação é que o resultado consiste em menos produto destinado para o mercado nacional, pois nenhuma empresa quer deixar de obter maior lucro. A partir disso, a lei de oferta e demanda passa a agir e, nesse caso, temos uma diminuição da oferta e uma manutenção da demanda, resultando em um aumento de preços dessas mercadorias para o consumidor local.

  2. Além desse aspecto, supondo que a oferta permanecesse igual, a inflação novamente ocorreria devido ao aumento no custo de produção. É importante lembrar que, devido ao livre comércio mundial e à globalização, diversos produtos do seu dia a dia precisam de algo produzido em outro país. Assim, quando a moeda nacional tem uma desvalorização cambial, torna-se mais caro comprar tais componentes da cadeia produtiva e, na maioria dos casos, a empresa tende a repassar esse aumento para o preço, visando manter o lucro obtido.



Dessa forma, com a desvalorização do dinheiro, a inflação tende a aumentar. Junto a isso, vale ressaltar que esse cenário é mais acentuado em economias voltadas para a exportação de commodities, como é o caso do Brasil. E diante de um cenário de valorização cambial? Seria necessariamente bom? Para isso, devemos novamente entrar em outro exemplo:

  1. Basicamente, tem-se o efeito totalmente inverso ao que ocorreu com a desvalorização. Assim, na mencionada ótica empresarial, as companhias exportadoras tenderão a lucrar menos, mas irão ofertar mais ao mercado nacional.

  2. Ademais, como a cadeia produtiva das mercadorias se tornou mais barata, o consumidor passa a pagar menos pelos produtos, criando um cenário deflacionário.


Portanto, essa valorização é fundamental para controlar a inflação de um país, mas nem tudo é positivo. Como dito, as exportadoras irão lucrar menos, e o problema nesse cenário é que o Brasil é um dos maiores exportadores de commodities. Com isso, um impacto considerável nessas companhias não afeta somente elas, mas também grande parte da economia nacional e toda a cadeia de valor delas. Ademais, apresenta-se um déficit na balança comercial do país. Como dito, as exportações brasileiras irão diminuir e, junto a isso, haverá um aumento da importação. A problemática é: se um país produz menos porque ele compra a maior parte do que precisa no exterior, ocorre uma diminuição no número de indústrias nacionais.

Assim, fica claro uma relação econômica de que a balança comercial possui uma relação direta com o PIB de um país. À medida que a produção e, consequentemente, a exportação aumenta, o PIB acompanha esse crescimento e, quando as exportações passam por declínio, ocorre uma queda no Produto Interno Bruto do país.

Então o que é o melhor, uma valorização ou uma desvalorização do real? De modo geral, não existe consenso entre economistas. Muitos alegam que de nada adianta tal perda de valor visando deixar os produtos mais competitivos no mercado externo se os problemas estruturais relacionados ao Custo Brasil³ perdurarem. Ao mesmo tempo, outros dizem que uma grande valorização prejudica consideravelmente a balança comercial do país.


Mas e o câmbio de hoje?


O real obteve uma desvalorização acentuada nos últimos anos, no qual, em seu momento de maior queda, o dólar chegou aos quase R$ 5,70. Mas, após isso, a moeda americana apresentou uma significativa desvalorização frente ao real, chegando, no dia 4 de abril de 2022, ao valor de R$ 4,60 - patamar mais baixo desde março de 2020, quando se iniciou a pandemia. As questões que ficam são: por que isso está acontecendo?




Desde março de 2021, o Brasil iniciou um ciclo de aumento da taxa básica de juros (Selic), saltando de 2% para os atuais 11,75%. Vale ressaltar que essa é a segunda maior taxa real do mundo, ficando atrás apenas da Rússia - país que atualmente vivencia uma guerra e enfrenta diversas sanções de países ocidentais. Dessa forma, o capital estrangeiro vê uma excelente oportunidade de investir - utilizando dólar - na economia brasileira, uma vez que recebe altos retornos e seguros. Também é possível citar a grave crise na Rússia e os recentes problemas na China relacionados ao COVID aumentam a fuga de capital destas nações, redirecionando-o para outros países emergentes, como o Brasil. Para se ter uma dimensão desse fluxo, apenas em 2022 já foram investidos R$ 86 bilhões na B3 (Bolsa de Valores Brasileira), enquanto em 2021 esse número foi de R$ 70,8 bilhões - até então, o recorde histórico.

Entrando em meio a problemática russa e ainda em um período de normalização da cadeia de produção global, vemos um grande déficit na oferta de commodities, já que o país euro-asiático é um dos maiores exportadores do mundo e está sofrendo diversas sanções. Assim, temos uma grande alta no preço das matérias-primas, beneficiando, até certo ponto, o Brasil, devido à maior entrada de dólar, fruto das exportações. Além disso, é válido ressaltar que as empresas, ao serem pagas em dólar, geram um aumento na circulação da moeda norte-americana no Brasil. Dessa forma, seguindo a mesma lei de oferta e demanda, se há muita moeda norte-americana no país, seu valor tende a descer em relação à moeda local.

Essa alta vai durar?


De modo geral, a taxa cambial é influenciada por inúmeras variáveis de caráter nacional, mas também internacional. Dessa forma, cabe a cada país avaliar quais políticas monetárias implementar internamente para contornar todos esses desafios.

Ao mesmo tempo, o mundo está passando por um momento conturbado da história, devido ao períodos pandêmico e de guerra na Europa. Junto a isso, o Brasil se encontra em uma delicada conjuntura política, devido às eleições, e econômica, o que exerce grande impacto nos investidores estrangeiros.

Em meio a todos esses fatores, não é possível determinar com toda certeza qual será o futuro de nossa moeda, mas é extremamente pertinente analisar a fundo as variáveis apresentadas e observar como elas estão influenciando a economia. Como já estabelecido, tanto uma valorização quanto uma desvalorização não são, necessariamente, boas ou ruins, apenas dependem do seu ponto de vista.

Glossário

1 - PTAX: É uma taxa de câmbio calculada durante o dia pelo Banco Central do Brasil que consiste na média das taxas informadas pelas instituições financeiras durante 4 janelas diárias, sendo a referência para o valor do dólar de D2 (em dois dias úteis).

2 - Dealers: É o nome dado às instituições financeiras, como bancos e corretoras, credenciadas pelo Banco Central do Brasil (Bacen), para atuarem no mercado aberto e de câmbio.

3 - Custo Brasil: É a expressão usada para se referir a um conjunto de dificuldades estruturais, burocráticas, trabalhistas e econômicas, que atrapalham o crescimento do país, influenciam negativamente o ambiente de negócios, encarecem os preços dos produtos nacionais e dos custos de logística, comprometem investimentos e contribuem para uma excessiva carga tributária. A estimativa é que o Custo Brasil retire R$ 1,5 trilhão por ano das empresas instaladas no país, representando 20,5% do Produto Interno Bruto (PIB).

4 - Balança comercial: Corresponde à diferença entre as exportações e as importações por parte de um país em um dado período. É um importante indicador para a análise econômica e serve de parâmetro para a comparação entre diferentes nações.

Referências:


GALHARDO, André. Como uma taxa de câmbio mais elevada pode ser positiva para o Brasil?. Remessa Online, 2019. Disponível em: <https://www.remessaonline.com.br/blog/como-uma-taxa-de-cambio-mais-elevada-pode-ser-positiva-para-o-brasil/>. Acesso em: 16 de abr. de 2022.


Câmbio Flutuante: como opera o regime cambial brasileiro. Bexs, 2021. Disponível em: <https://www.bexs.com.br/blog/cambio-flutuante/>. Acesso em: 16 de abr. de 2022.


As 10 maiores empresas exportadoras do Brasil. Banco BS2, 2021. Disponível em: <https://blog.bancobs2.com.br/as-10-maiores-empresas-exportadoras-do-brasil/>. Acesso em: 16 de abr. de 2022.


Entenda o que é câmbio e a sua influência no mercado. Biz Capital, 2021. Disponível em: <https://bizcapital.com.br/blog/o-que-e-cambio/>. Acesso em: 16 de abr. de 2022.


Câmbio fixo: conheça as características desse regime cambial. Jornal Contábil, 2020. Disponível em: <https://www.jornalcontabil.com.br/cambio-fixo-conheca-as-caracteristicas-desse-regime-cambial/#.Ylfsx-jMJEY>. Acesso em: 16 de abr. de 2022.


Perguntas e respostas da taxa de câmbio. Banco Central do Brasil, 2020. Disponível em: <https://www.bcb.gov.br/acessoinformacao/perguntasfrequentes-respostas/faq_taxacambio>. Acesso em: 16 de abr. de 2022.


SILVA, Vinicius. Dólar baixo é bom para uns e ruim para outros; veja impacto na economia. UOL, 2022. Disponível em: <https://economia.uol.com.br/noticias/redacao/2022/04/04/dolar-e-a-interferencia-na-economia.htm>. Acesso em: 16 de abr. de 2022. Dólar: comercial e turismo, onde comprar e vender, como pesquisar preços, 2019. Disponível em: <https://economia.uol.com.br/noticias/redacao/2019/12/17/dolar-comercial-e-turismo-onde-comprar-vender-precos-cotacao-dicas-iof.htm#:~:text=A%20taxa%20de%20c%C3%A2mbio%20%C3%A9,refer%C3%AAncia%20e%20n%C3%A3o%20%C3%A9%20obrigat%C3%B3ria>. Acesso em: 16 de abr. de 2022. TREVIZAN, Karina. Por que o dólar turismo é mais caro que o comercial?. G1, 2018. Disponível em: <https://g1.globo.com/economia/educacao-financeira/noticia/por-que-o-dolar-turismo-e-mais-caro-que-o-comercial.ghtml>. Acesso em: 20 de abr. de 2022.


Déficit comercial. Mais Retorno, 2019. Disponível em: <https://maisretorno.com/portal/termos/d/deficit-comercial>. Acesso em: 20 de abr. de 2022.


Câmbio flutuante: o que é e quais são seus benefícios. Capital Now, 2020. Disponível em: <https://capitalresearch.com.br/blog/cambio-flutuante/>. Acesso em: 20 de abr. de 2022.


RIBEIRO, Amarolina. "Balança comercial". Brasil Escola. Disponível em: <https://brasilescola.uol.com.br/geografia/balanca-comercial.htm>. Acesso em: 22 de abr. de 2022.


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