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Warren Buffett: O caminho para o sucesso

Atualizado: 19 de nov. de 2020


Considerado um dos maiores investidores do mundo, apesar dos seus tão criticados métodos, Warren Buffett possui a maior rentabilidade anual de todo o mercado financeiro desde seu início na Berkshire Hathaway, sua holding de investimentos. Sendo presidente há mais de 50 anos, ele obteve retornos médios de 20% ao ano, enquanto o S&P 500 (índice dos principais 500 ativos das bolsas americanas) foi apenas 10%, se tornando referência para os investidores. Por isso, todas as suas aquisições, logo que realizadas, ganham mais aportes e se valorizam imediatamente. Ele, que mora na mesma casa desde 1958 e possui uma vida muito simples, já se tornou o homem mais rico do mundo, em 2008. Tendo acumulado um patrimônio líquido de US$ 67,9 bilhões, é o único entre os principais desse ranking no ramo de investimentos.


Sua História

Warren Edward Buffett nasceu em 1930 na cidade de Omaha, em Nebraska, nos Estados Unidos. Desde cedo já se interessava por números e dinheiro, além da sua atração por investimentos, lendo e relendo todos os livros do escritório de ações do seu pai. A sua paixão por ganhar dinheiro era tanta que, aos 6 anos, começou a revender Coca-Cola e chicletes de porta em porta, além de amendoins e pipoca nos estádios da cidade. Quando tinha apenas 11 anos, em uma visita com a sua família à Bolsa de Valores de Nova York (NYSE), Buffett, com suas próprias economias, comprou suas primeiras ações do investimento preferido do seu pai: US$ 114,75 dólares em Cities Service Preferred. Logo após a compra, as ações desvalorizaram rapidamente 30%, com isso, ele optou por vendê-las quando retornaram ao seu valor original. Entretanto, em pouco tempo elas tiveram uma alta valorização e, caso não as tivesse vendido, lucraria US$ 492. Assim, Buffett diz ter aprendido logo em sua primeira operação a ter mais paciência, e que tal conhecimento foi fundamental para que ele conseguisse atingir seu patrimônio atual.



Ao contrário de atividades típicas de crianças, Buffet investia seu tempo em diferentes formas de ganhar mais dinheiro. Aos 13 anos, ele entregava jornais e revistas e, com 15, comprou uma fazenda de 16 hectares, a qual dividia os lucros com o agricultor responsável pela produção. Além desses negócios, o jovem investidor começou a empreender de várias maneiras antes mesmo de se formar na escola: vendia bolas de golfe usadas e selos colecionáveis, fazia polimento de carros e também era dono das máquinas de pinball pelos estabelecimentos da cidade. Embora preferisse focar nesses empreendimentos, ingressou na Wharton School of Business and Finance por obrigação de seus pais, se formando em administração. Na busca por outra faculdade para se especializar, descobriu que Benjamin Graham e David Dodd, escritores de Security Analysis, um dos livros preferidos do escritório de seu pai, eram professores da Columbia University. Ao iniciar o mestrado de economia nessa universidade, Buffett se destacou como melhor aluno e criou uma relação muito forte com Graham.


Warren Buffett se tornou mestre muito jovem e, aos 21, já era professor da Universidade de Omaha, além de trabalhar na empresa de seu pai. Após 3 anos atuando profissionalmente no mercado financeiro e mantendo seu contato com Benjamin Graham, foi contratado pela Graham-Newman Corp, com a função de analisar e comprar ações. Apenas 2 anos depois, Graham se aposentou, encerrando operação da companhia e o jovem investidor de 25 anos abriu seu próprio fundo de investimentos, a Buffett Partnership, com aportes de amigos e familiares, totalizando um patrimônio inicial de US$ 105.100,00. Embora Buffett tivesse investido apenas 100 dólares, ficava com 25% dos lucros por comandar a operação.


Nesse contexto, uma das estratégias de Buffett, na época, era investir em empresas que estivessem sendo negociadas com grande descontos, mesmo que o setor não fosse atrativo. Seguindo essa lógica, em 1962 ele percebeu que as ações da Berkshire Hathaway, uma empresa têxtil que na época passava por problemas financeiros, estavam baratas, além de acreditar que os controladores da companhia pretendiam recomprar as ações após esse momento de crise e os preços subiriam. Tudo ocorreu como esperado, ele fez grandes aportes e, em alguns meses, os diretores da organização fecharam um acordo de compra muito acima do que Buffett havia pago, mas eles tentaram o enganar com um preço inferior no contrato. Isso desagradou muito ele que, então, começou a comprar a maioria das ações da Berkshire, se tornando sócio majoritário e demitindo todos os administradores. Hoje, ele não avalia essa como sendo uma boa aquisição, tendo em vista que comprou a empresa por impulso e não seguindo suas teses de investimento. Entretanto, essa se tornou sua holding de investimentos, na qual Warren Buffett é sócio e diretor desde então.


No entanto, o “Oráculo de Omaha”, como é conhecido, nunca aproveitou do luxo que seus altos investimentos poderiam proporcionar. Buffett trabalha até hoje, com quase 90 anos, e lê de 5 a 6 horas por dia, pois são as atividades que mais lhe interessam. Ele diz que em toda sua vida irá apenas gastar 1% de todo seu capital acumulado, e enxerga o ganho monetário como uma competição, visto que todos têm acesso aos mesmo conteúdos. Sendo assim, em 2006 ele fez seu testamento, dedicando 85% do seu patrimônio para a Bill & Melinda Gates Foundation, que tem como objetivo central a melhoria das condições de vida da população mundial, com foco na saúde e luta contra a pobreza. Os outros 15% foram destinados para as fundações de caridade de seus filhos e de sua falecida esposa. Além disso, Buffett já doou mais de US$ 37 bilhões para diversas iniciativas, se tornando o maior filantropo da história - mesmo assim, ele se mantém com um patrimônio bilionário que o concede, hoje, a 10ª posição entre as pessoas mais ricas do mundo.


Influências

Para se tornar o maior investidor do mundo, Warren Buffett contou com outros grandes nomes que ajudaram em sua formação. Buffett considera que Benjamin Graham, depois de seu pai, foi a pessoa que mais o influenciou em sua carreira de investimentos. Graham era um economista inglês que fez sucesso no mercado acionário ao mudar como as análises financeiras eram feitas. Ele propôs que o cálculo de valor intrínseco de uma companhia fosse feito a partir do seu patrimônio, lucros e dividendos, o que retornaria um valor estimado, não definitivo, como se acreditava antes. Essa metodologia é conhecida como Value Investing.


A conclusão desse método se baseia no fato de não ser fundamental chegar em um número exato, já que uma aproximação é suficiente para entender se cada ação está sendo negociada a um preço atrativo. Devido ao baixo grau de precisão, Graham se embasava no que chamava de “margem de segurança”, um spread significativo entre o preço de mercado e o valor calculado, a fim de mitigar erros e assegurar que não aconteceria uma grande perda monetária. Além disso, ele acreditava que o mercado era guiado pela emoção, por meio de ondas de otimismo e medo, oscilando o preço das ações perto do valor intrínseco. Assim, seria possível comprar com desconto quando o mercado estivesse receoso e recuperar o investimento no longo prazo, independente das oscilações momentâneas de mercado.


Para aperfeiçoar a metodologia de Graham, Buffett toma como referência a tese de doutorado do economista John Burr Williams, publicada no livro The Theory of Investment Value, para avaliar ações e empresas. Williams desenvolveu a análise de fluxo de caixa descontado, cujo intuito é estimar todos os fluxos de caixas de uma companhia e quanto isso valeria no presente, com objetivo de estimar o valor intrínseco da melhor forma.


Warren Buffett considera que evoluiu essa técnica de investir em valor, levando também em consideração análises qualitativas. Graham não considerava as especificidades de cada negócio e nem as competências da gestão, portanto a técnica resumia-se ao estudo de relatórios contábeis de cada empresa. Essa mudança de pensamento teve influência de Phil Fisher, um grande investidor americano que estudava as perspectivas futuras e competências da gestão tanto da empresa quanto das concorrentes do setor. Assim, enquanto Graham visava a compra de ações baratas, Fisher focava em empresas com potencial de aumentar o seu valor intrínseco no longo prazo. Além disso, ele pregava os benefícios de concentrar a carteira em poucos ativos, tornando possível o desenvolvimento de uma profunda compreensão de todos seus investimentos. Influenciado por ambos, Buffett disse, em 1969, que sua filosofia de investimentos é “15% Fisher e 85% Benjamin Graham”.


Por fim, Charlie Munger, vice-presidente da Berkshire e seu braço-direito, é também uma grande influência para as estratégias de investimentos de Buffett. Munger é um ex-advogado e empresário que domina muitas áreas de conhecimento, como ciência, história, filosofia, psicologia e matemática, se inspirando nas avaliações mais qualitativas de Fisher. Ele é responsável para que os investimentos da Berkshire, hoje, sejam igualmente influenciados pelos dois investidores, Graham e Fisher. Além disso, o sócio de Buffett o fez parar de buscar apenas ações baratas, pois passou a perceber que, ao analisar os potenciais crescimentos de cada organização, era possível maximizar o retorno. Sendo assim, é melhor comprar uma ótima empresa a um preço mediano do que uma empresa mediana a um preço ótimo.


Filosofia de Investimentos

A partir de suas influências, Warren Buffett desenvolveu alguns princípios que o possibilitaram atingir o retorno médio de 20% ao ano e performar muito acima do S&P 500.


Buffett gosta de repetir um dos ensinamentos de Graham por meio de duas regras de investimentos:


Regra número 1: nunca perca dinheiro.

Regra número 2: nunca esqueça a regra número 1.


Essas frases resumem a filosofia de investir sem se arriscar, já que é muito mais fácil perder dinheiro do que ganhar, devido às volatilidades e imprevisões da bolsa. Além disso, ele diz que as ações devem ser compradas “para sempre”, não focando na venda, mas sim nos lucros retornados. Logo, segundo ele, não é válido se arriscar para pequenos retornos no curto prazo e nem checar a oscilação diária do mercado acionário. Essa estratégia de Buy and Hold é fundamental para moldar o pensamento de que só faz sentido comprar uma ação caso esteja disposto a comprar a própria companhia por inteiro, o que torna a decisão mais criteriosa.


Além desses princípios, Buffett utiliza alguns filtros para selecionar seus investimentos. A Berkshire apenas investe em modelos de negócios cujas formas de se rentabilizar são simples de serem entendidas. Isso ocorre pois só assim será possível visualizar a consistência do desempenho e entender se as perspectivas do mercado são favoráveis no longo prazo, possuindo conhecimento suficiente para desinvestir caso ocorra uma mudança significativa no mercado. Por isso, Buffett não investiu em empresas de tecnologia na Bolha da Internet, devido às rápidas mudanças do setor e a necessidade de entendê-las a fundo. Assim, ele possui um Círculo de Competências, ou seja, um grupo de ativos sobre os quais ele possui expertise a respeito do ramo e da empresa, como por exemplo, o setor financeiro e o de consumo não-cíclico. Seguindo a ideia de Fisher de concentração em poucos ativos, Buffett prega que não é necessária muita diversificação, apenas o aporte em companhias com maior chance de retorno. Para isso, basta observar de perto os ativos do Círculo de Competências e investir grandes quantias no momento mais favorável.


O outro filtro é o reconhecimento da marca: Buffett busca escolher empresas líderes em seus respectivos mercados, como a Apple e a Coca-Cola. Nesse contexto, são marcas que os consumidores têm maior contato e identificação, facilitando a geração de retornos no longo prazo. Ademais, é possível ter um poder de precificação quando as empresas detêm tal capacidade de barganha, já que o cliente, em geral, preza mais pela qualidade do que pelo preço. Buffett traz o exemplo da Coca-Cola: se cada unidade de refrigerante aumentasse apenas 1 cent, a receita aumentaria em 20 milhões de dólares por dia, já que o faturamento com o aumento do preço seria superior a queda de clientes.



Conclusão

Com isso, podemos entender como Warren Buffett se tornou o maior investidor de todos os tempos. Por meio de influências mais técnicas de Graham e Williams, além da análise qualitativa de Fisher e Munger, montou sua tese de investimentos, que se provou extremamente eficiente no longo prazo. A maioria dos investidores assume que a diversificação é a melhor forma de alcançar sucesso com ações e Buffett concorda. Apesar disso, acredita que com muito estudo e dedicação é possível atingir maior sucesso investindo apenas no seu Círculo de Competências, e é isso que Buffett fez nos seus mais de 50 anos de mercado.


Por outro lado, a Berkshire é muito criticada pelo seu alto volume em caixa, já que estaria perdendo oportunidades de investimento. Hoje, a holding de Buffett possui valor de mercado de aproximadamente US$ 400 bilhões, sendo mais de 100 bilhões em caixa. Ele defende esse posicionamento, garantindo que a melhor opção é guardar o capital para ser alocado em momentos de crise, ou seja, quando as ações estão com uma grande “margem de segurança”. Exemplos dessas aplicações foram seus investimentos na Coca-Cola durante a crise da Black Monday (1987), altos aportes durante a Bolha da Internet na MidAmerican Energy e US Liability e a aplicação no Bank of America e Goldman Sachs na crise de 2008. Durante a pandemia do novo coronavírus, Warren Buffett investiu, aproximadamente, US$ 10 milhões na Dominion Energy, companhia americana de gás natural.




Bibliografia

HAGSTROM, Robert G. O Jeito Warren Buffett de Investir. 3.ed. New Jersey: Wiley, 2014

VERSIGNASSI, Alexandre. Crash - uma Breve História da Economia. 2. ed. São Paulo: Leya, 2015

COMO SER WARREN BUFFETT. Direção: Peter Kunhardt, Brian Oakes. Produção de Teddy Kunhardt, George Kunhardt. Estados Unidos: HBO, 2017.


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