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Da garagem à Nova Iorque: conheça a história de um dos maiores bancos da América Latina


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Quem nunca viu o cartão de crédito roxinho nas mãos de algum conhecido? De fato, a cada dia que passa esse item se torna mais comum entre os brasileiros, e o responsável por promover essa disseminação tem um nome: Nubank - ou Nu, como já chamado por muitos. Nesse sentido, para entender melhor como essa popularização se deu e qual o futuro projetado para essa empresa, cabe analisar a sua trajetória e quais foram os pontos-chave da startup¹ para atingir um crescimento exponencial em um curto período de tempo até chegar na posição de um dos maiores bancos da América Latina.


Sua fundação


Só de pensar em realizar qualquer serviço bancário no Brasil já dá um certo desconforto e uma preguiça, dado que esse sistema pode ser definido como lento, burocrático e complicado. Cabe ressaltar que, por mais que aplicativos de bancos consigam poupar tempo e facilitar o processo, ainda assim as idas aos bancos tradicionais são consideradas por muitos como algo estressante.


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Dentre os cidadãos que passaram por estresses nesse sistema, encontra-se o protagonista da história da empresa: o colombiano David Vélez, que, em 2012, foi enviado para o Brasil enquanto trabalhava na Sequoia Capital, empresa de capital de risco sediada nos Estados Unidos. Após sua primeira frustração tentando entrar em um banco, ele se deparou com outro problema: a alta burocracia para um estrangeiro abrir uma conta e os elevados juros cobrados em serviços.


Diante desse episódio, David vislumbrou uma oportunidade. Se o mercado é tão fechado e difícil dado os grandes players que dominam o ramo bancário - como o Itaú e Bradesco - , por que não criar um negócio para simplificar a vida dos brasileiros? Com essa ideia em mente, ele desenhou um modelo de negócios que fosse viável e atrativo para o mercado bancário. O objetivo era criar uma instituição financeira enxuta e que oferecesse o mínimo de burocracias possível, indo na contramão dos tradicionais bancos do país. Além disso, a startup seria totalmente digital, sem agências físicas e com todos os documentos digitalizados, bastando um simples cadastro para se tornar um cliente.


Dando início a sua jornada, Vélez criou o projeto e ofereceu apenas um único serviço: o cartão de crédito. A ideia era criar um negócio que se sustentasse com apenas um produto, a fim de minimizar os custos ao máximo e, posteriormente, adicionar outros que acelerassem o crescimento da empresa, como, por exemplo, novos serviços ou futuras aquisições. A proposta foi duramente criticada por quem tomava conhecimento, tanto por por profissionais da área, quanto por empreendedores brasileiros, justamente pela alta concentração do setor bancário nacional.


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Apesar de muitos considerarem loucura, o empreendedor conseguiu o apoio e confiança de duas pessoas que, no futuro, tornaram-se sócias da empresa, fazendo o negócio escalar de forma inimaginável. Do mercado bancário, veio a executiva Cristina Junqueira e, do ramo de startups, o americano Edward Wible, responsável pela tecnologia do projeto. Assim, com o time formado em 2013, só era preciso nomear o novo empreendimento.


O primeiro nome sugerido foi “EO2”, uma referência ao oxigênio, com o intuito de passar uma mensagem de que o negócio iria “oxigenar” o setor bancário brasileiro. Porém, após o contato com uma consultoria, foi escolhido o nome Nubank, que, além de remeter a ideia de um banco, trazia a palavra “Nu”, que pode ser associada a ideia de nudez, dadas as poucas burocracias oferecidas no serviço e, também, ao significado de “novo”. Diante disso, em maio de 2013, em uma humilde casa alugada situada no Brooklin em São Paulo, começaram as operações da equipe.


Seu crescimento


Como dito anteriormente, a ideia primordial da fintech² era oferecer um produto que pudesse sustentar a empresa em seu momento inicial, a fim de introduzir a sua proposta no mercado, para, depois, ampliar seus serviços e alcançar o patamar das grandes instituições bancárias. Com essa mentalidade, em 2014, o Nubank lançou seu cartão de crédito na bandeira Mastercard. Nesse contexto, para se diferenciar dos demais concorrentes, a companhia apostou na ideia de não cobrar a taxa de anuidade de seus clientes e, além de promover um design único que, posteriormente, viria a ser uma das caras da empresa. Nessa linha, o banco digital apenas gerava receita a partir do pagamento das parcelas relacionadas à bandeira correspondente e pelo pagamento de juros em cima de boletos vencidos e compras parceladas. Mas, mesmo assim, com taxas abaixo dos instituições tradicionais, de 2% a 14,5% dependendo do cliente, enquanto seus concorrentes fixavam um valor de 15% no boleto atrasado. Além dessa facilidade de não ter anuidade, a rapidez e simplicidade de abrir uma conta junto ao seu design único e de cor roxa atraiu os jovens a se cadastrarem na instituição, o que fez com que a marca se popularizasse de forma mais rápida nas redes sociais.

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A partir de rodadas de investimentos realizadas em 2013 e 2014, as quais totalizaram um montante de US$ 16,4 milhões, o Nubank conseguiu uma margem para poder atrair seus clientes com seu então único produto diferenciado e a oferta de uma ótima experiência ao usuário. Começando com cartões de crédito, a Nu acreditava que poderia enfrentar um dos aspectos mais desafiadores dos serviços financeiros no início de sua evolução. Isso os ajudou a: (i) ganhar a confiança de uma vasta gama de clientes ao empoderá-los com diferentes soluções de crédito que, de outra forma, poderiam ser consideradas de baixa qualidade, caras ou inacessíveis; (ii) construir um grande e crescente conjunto de dados pessoais sobre o comportamento financeiro e de transações de seus clientes; (iii) criar uma posição de negócio favorável e altamente defensiva no mercado. Como resultado dessa estratégia sólida e bem desenvolvida, no período de 4 anos (2013 - 2017), a fintech consolidou uma base de 3 milhões de clientes cadastrados no aplicativo, além de ter sido classificada em 2016 como uma “empresa unicórnio” - startups avaliadas em pelo menos 1 bilhão de dólares.


Em 2017, a empresa lançou sua solução de conta bancária totalmente digital, a NuAccount, que proporciona a seus clientes a capacidade de fazer depósitos, transferências e pagamentos gratuitos, diferentemente de seus concorrentes que cobravam uma taxa se o cliente fizesse uma transação para outra instituição. Além disso, o Nubank também passou a oferecer o recurso de sacar dinheiro em uma rede de caixas eletrônicos parceiros a um valor nominal de R$ 6,50 pagos pelo responsável pela conta. Comparativamente ao mercado, era algo impossível de se fazer, dado que só era possível a retirada do dinheiro em seus respectivos caixas. Junto a isso, ela também criou um recurso de poupança que paga um rendimento justo sobre os saldos dos clientes, oferecendo 100% do CDI³ (Certificados de Depósito Interbancário) brasileiro, sendo considerado um retorno acima dos pagos por outros bancos. Como consequência de suas inovações, a empresa apresenta a maior taxa de eficiência de serviço no mercado.


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Em 2018, a startup lançou o seu cartão de débito complementar, tornando-o disponível de forma gratuita a qualquer cliente com uma NuAccount por meio da sua aplicação móvel. A introdução da NuAccount e seu cartão de débito correspondente foram passos importantes na diversificação de sua oferta de produtos e tiveram impactos visíveis em suas principais métricas de negócios, como o aumento de sua base de clientes, a qual dobrou no período do ano de 2017 para 2018, chegando à marca de 6 milhões. Isso permitiu que a Nu atendesse a um espectro muito mais amplo da população, incluindo clientes de baixa renda que não teriam como possuir uma opção como cartão de crédito logo quando se cadastrassem.


Com um crescimento exponencial da instituição, nos anos de 2019 e 2020, a empresa unicórnio decidiu expandir suas operações para outros dois países, México e Colômbia, já que identificou padrões de clientes similares aos do Brasil. Diante disso, a companhia adotou uma estratégia de negócio semelhante à original e, como resultado da inovação, em menos de 2 anos de atuação em território mexicano, já acredita-se que o banco seja o maior emissor de cartão de crédito do país, de acordo com o Banco Central local. Com isso, a base de clientes da empresa explodiu, chegando à casa de 48 milhões no final do terceiro trimestre de 2021. Ainda assim, a participação dessas duas nações na receita da empresa é ínfima, com a Colômbia tendo 0,02% e o México somando 1,51%.


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No final de 2021, mais especificamente no dia 9 de dezembro, ocorreu o IPO (Inicial Public Offering) da empresa na Bolsa de Nova York (NYSE) com o código de “NU”. O preço de cada ação era, inicialmente, de US$ 9, mas, encerrado seu primeiro dia de negociação, as ações subiram 14,78% devido à euforia dos investidores, sendo negociadas a US$ 10,33. Ademais, não foi restrito ao investidor da NYSE que pôde participar, já que as ações da Nu também entraram em negociação na Bolsa de Valores Brasileira (B3) por meio de BDRs (Brazilian Depositary Receipt) conseguindo uma valorização de 20,10% e sendo negociados inicialmente a R$10,04.


Com essa jogada, a fintech chegou a ser avaliada, na época, em cerca de US$ 41,7 (R$ 233) bilhões, chegando ao maior valor de mercado dentre os bancos da América Latina, ultrapassando o Itaú Unibanco (ITUB4), avaliado em R$ 213 bilhões, e o Bradesco (BBDC4), avaliado em R$ 188,4 bilhões. Atualmente, a empresa se posiciona como a sétima no ranking de companhias mais valiosas da América Latina, o qual é liderado pela Petrobras (PETR4).

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Porém, ao decorrer do tempo, nota-se que o valor de sua ação atingiu preços abaixo da cotação do IPO, podendo demonstrar um certo receio dos acionistas ao terem precificado de forma errônea a empresa. Um dos primeiros bancos a iniciar a cobertura da oferta inicial, o BTG Pactual (Banking and Trading Group), mudou sua recomendação de “compra” para “neutra”. De acordo com seus analistas, o Nubank tem quase tudo que uma fintech pode desejar: uma marca amada, milhões de clientes engajados, um fundador visionário e acionistas “incríveis”. Por outro lado, a equipe alega que não houve acesso aos executivos do Nubank e que a combinação de um valuation⁶ extremamente alto e o mau momento macroeconômico torna a ação uma aposta muito arriscada.



O futuro do roxinho


A partir do que foi abordado, nota-se que a unicórnio ainda não tem pretensões de parar seu crescimento. O objetivo, no entanto, continua o mesmo desde a sua fundação: sempre evoluir para devolver a todas as pessoas o controle sobre seu dinheiro, construindo o futuro da empresa em colaboração com seus clientes. Ademais, seu CEO já confirmou que a próxima meta da Nubank é se tornar a maior fintech do mundo, aproveitando as mesmas ferramentas de concessão de crédito que utilizaram anteriormente. Diante disso, só nos resta acreditar no sonho inicial de David e nos questionar até onde a companhia conseguirá impactar o cotidiano de seus clientes e do sistema bancário brasileiro.


Glossário:

  1. Startups - Uma empresa inovadora com custos de manutenção muito baixos, mas que consegue crescer rapidamente e gerar lucros cada vez maiores

  2. Fintechs - São empresas que disponibilizam serviços na área financeira levando em consideração as facilidades e praticidades que o uso da tecnologia pode proporcionar.

  3. CDI - Trata-se de uma taxa com lastro em operações realizadas entre instituições bancárias. Ou seja, são títulos que as instituições financeiras emitem, com o objetivo de transferir seus recursos para outra instituição.

  4. IPO - Representa a primeira vez que uma empresa receberá novos sócios realizando uma oferta de ações ao mercado. Ela se torna, então, uma companhia de capital aberto com papéis negociados no pregão da Bolsa de Valores.

  5. BDRs - São recibos de ações de empresas estrangeiras negociados na bolsa brasileira (Bovespa). Uma BDR equivale a um sexto da ação original.

  6. Valuation - Termo em inglês para "Avaliação de Empresas". Esta área de finanças estuda o processo de se avaliar o valor de determinado ativo, financeiro ou real.


BIBLIOGRAFIA:


AMARAL,Thiago; A História do Nubank. Aaainovação. Disponível em:<https://blog.aaainovacao.com.br/a-historia-do-nubank-e-3-licoes-que-voce-pode-aprender-com-ela/> Acesso em: 16/01/2022


Redação Nubank; História do Fundador do Nubank é contada em série do HISTORY. Nubank, 02/07/21. Disponível em: <https://blog.nubank.com.br/historia-fundador-nubank-serie-history/> Acesso em: 16/01/2022.


Redação Nubank; O que é o Nubank?. Nubank, 02/07/21. Disponível em:<https://blog.nubank.com.br/nubank-o-que-e/> Acesso em: 16/01/2022.


Redação Nubank; História do Nubank. Nubank, 02/07/21. Disponível em: <https://blog.nubank.com.br/tag/historia-do-nubank/ > Acesso em: 16/01/2022.


Nubank; História do Nubank, 2020. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=PslySEBNkhs> Acesso em: 16/01/2022.


Elementar; História de Sucesso #22, 2021. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=JLTX8zU-eM4> Acesso em: 16/01/2022.


ARAÚJO, Vanessa; Nubank, a fintech que se tornou referência no Brasil, 2021. Disponível em: <https://blog.b2bstack.com.br/nubank/#p2> Acesso em: 16/01/2022.


PRADO, José; Confira todos os investimentos recebidos pelo Nubank, 2021.


VENTURA, Felipe; Nubank dobra base de clientes e reduz prejuízo em 32%, 2021. Disponível em: <https://tecnoblog.net/noticias/2020/08/24/nubank-dobra-base-de-clientes-e-reduz-prejuizo-1-semestre-2020/> Acesso em: 16/01/2022.


Papo de gestão; O que faz o Nubank ser referência, um papo com o fundador David Velez. Disponível em: <https://open.spotify.com/episode/050xRTdiftQEgYwjdtk4q8?si=0b4cef02e54842bd> Acesso em: 16/01/2022.


ISTOÉ DINHEIRO; Petrobras mantém liderança de empresa mais valiosa da América Latina, 05/01/2022. Disponível em: <https://www.istoedinheiro.com.br/petrobras-mantem-lideranca-de-empresa-mais-valiosa-da-america-latina/> Acesso em: 17/01/2022.


WILTGEN, Julia; Nubank quer ser a maior fintech do mundo, não só da América Latina, e pode vir a ser ‘muito lucrativo’, diz BTG, 02/12/2021. Disponível em: <https://www.seudinheiro.com/2021/empresas/nubank-quer-ser-a-maior-fintech-do-mundo-nao-so-da-america-latina-e-pode-vir-a-ser-muito-lucrativo-diz-btg/> Acesso em: 17/01/2022.



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