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ESG: a semente da mudança para o futuro



Em um mundo com uma população cada vez mais consciente e engajada com causas ambientais e sociais, é de se esperar que tais questões sejam estendidas ao universo corporativo. Por isso, atualmente, ser reconhecido por cuidar do meio ambiente, promover impacto social positivo e adotar uma conduta corporativa competente tornaram-se os principais objetivos no mundo dos negócios. Uma vez que, além de ter demonstrado longevidade para as companhias, possuir um time diverso e promover impactos socioambientais positivos tem voltado o olhar do consumidor final e dos investidores para o negócio. Nesse sentido, na mais nova etapa do “capitalismo consciente”, a obsessão das empresas por conquistar esse status pode ser resumida em apenas três letras: ESG.


O que é ESG?


O acrônimo ESG tem sua origem dos termos em inglês Environmental, Social and corporate Governance, que englobam a necessidade de focar em práticas ambientais, sociais e de governança corporativa. A sigla é utilizada, basicamente, para sinalizar negócios que buscam formas de minimizar seus impactos no meio ambiente, promover adequações às pautas sociais - como a inclusão racial e de gênero -, além de buscar por modelos de gestão mais responsáveis e transparentes.

Consequentemente, é utilizada também para direcionar investidores a pautarem seus investimentos em critérios de sustentabilidade, fazendo com que, ao invés de serem analisados exclusivamente índices financeiros, sejam considerados os efeitos da empresa em dimensões, hoje, centrais no debate internacional - como diversidade, filantropia e auxílio no combate a temas como aquecimento global e desmatamento.




Sendo assim, um grande exemplo nacional de empresa detentora dessa rotulação é a Natura. Dentre as medidas que caracterizam a maior multinacional brasileira de cosméticos como uma companhia socialmente responsável, pode-se citar o fato de possuir 48% de mulheres ocupando posições na alta liderança e com salários equitativos, além de ter realizado a doação de US$ 1 milhão para a assistência de mulheres vítimas de violência doméstica durante o isolamento social. Na frente de governança, a empresa possui como um de seus diferenciais uma remuneração fixa e variável atrelada a metas individuais e conjuntas da companhia. Por fim, no âmbito sustentável, tem-se o relacionamento com fornecedores locais na Amazônia na busca por conciliar a proteção ambiental ao progresso social e econômico, o que contribuiu para a conservação de 2 milhões de hectares de floresta, além de utilizar plástico verde¹ em suas embalagens e outros materiais ecológicos. Tais ações, por sua vez, garantiram à empresa, em 2020, o prêmio ECO - que é o mais importante reconhecimento de sustentabilidade empresarial do Brasil - e, em 2021, o reconhecimento internacional como Best For The World na categoria Meio Ambiente, certificação entregue pela B Lab².


A semente do ESG


O conceito ESG foi instaurado em 2005, depois que o então secretário-geral da ONU, Kofi Annan, convocou investidores a considerar em suas análises os pilares socioambientais e de responsabilidade de gestão das companhias que compõem o mercado. Após um período sem muita adesão e com poucos investidores dando importância a essas características, gradualmente a proposta foi ganhando relevância. Em agosto de 2019, a organização Business Roundtable, que reúne os presidentes executivos de 181 das maiores corporações dos Estados Unidos - como Amazon, Apple e Walmart -, aderiu formalmente à ideia de que as companhias precisavam olhar para além de seus balanços contábeis, o que impulsionou a expansão dessa mentalidade no mercado.


Partindo desse princípio, a Apple, por exemplo, utiliza 100% de energia renovável em todas as lojas, escritórios e data centers, passando a fazer uso também de alumínio reciclado na estrutura de seus aparelhos, além de ter operações neutras em emissões de carbono. Outro ponto a se destacar é o papel social da empresa, que, em 2020, investiu 200 milhões de dólares em treinamentos e programas de apoio e crescimento de suas equipes, como consta em seu relatório ESG de 2021.


A partir disso, Laurence Douglas Fink, CEO da BlackRock, também surgiu com a iniciativa na gestora - que é a maior em investimentos do mundo, com US$ 9,5 trilhões sob a sua gestão (quase 7 vezes o PIB do Brasil). Com isso, em 2020, Fink divulgou duas cartas: uma para executivos de empresas e outra para seus clientes. Nessas mensagens, anunciou que a sustentabilidade se tornaria fundamental para as decisões de investimentos da BlackRock a partir daquele momento, sendo esse o estopim para a disseminação em massa da sigla no universo financeiro.



Para melhor entendimento, vale salientar que a maior parte dos investidores pelo mundo não compra ações diretamente da bolsa de valores, apenas aplica seu capital em fundos de investimento. Dessa forma, esses que decidem, de fato, para onde o dinheiro vai - ou seja, quais ações serão adquiridas. Por essa grande influência, a decisão da BlackRock impactou significativamente o mercado e também incentivou outras gestoras a fazerem o mesmo. A exemplo disso, tem-se o surgimento de fundos de investimento ESG - como o banco BTG Pactual, que, no mesmo ano, lançou um fundo em que 100% do dinheiro é investido em empresas presentes em índices ESG da B3, como a Natura, já citada. Nesse sentido, ter um selo ESG deixou de ser apenas um incremento perante a imagem com o mercado, ganhando cada vez mais importância até se tornar a possível diferença entre o sucesso e o fracasso de uma empresa.


Critérios e brechas da classificação


Para a classificação de empresas, vale mencionar que quem define se uma companhia é digna ou não do selo ESG são fundos de investimento, bolsas de valores - como a B3, no Brasil - e consultorias que produzem índices de ações³ - como é o caso da S&P⁴ e da MSCI⁵, nos Estados Unidos. Para isso, é necessário que as empresas prestem contas sobre o que fazem em prol dos pilares do selo, produzindo relatórios e outros tipos de informações confirmando o que tem feito para atingir tal patamar de responsabilidade. Assim, trata-se de um ecossistema que se autorregula sem a presença do Estado - como no conceito da “mão invisível do mercado” criado por Adam Smith -, fazendo com que as empresas, muitas vezes, não tomem essas iniciativas por vontade própria, mas por uma questão de pressão para a manutenção de uma boa imagem frente aos investidores e clientes.


No entanto, como descrito acima, as informações que definem quem ganha a condecoração são divulgadas pelas próprias empresas nessa dinâmica. Desse modo, cabe o questionamento: não é possível que elas estejam mascarando os seus atributos ruins e exacerbando os bons? Tal reflexão, por sua vez, traz a discussão de que, por mais que a mão invisível funcione, nem sempre é tão eficiente quanto Smith imaginou.


A manobra de aproveitamento desse desfalque por parte de empresas possui, inclusive, um nome: greenwashing. O termo, que pode ser traduzido como “maquiagem verde”, consiste na prática de promover discursos e propagandas com características ecologicamente responsáveis, porém, infundadas. A intenção primordial nesse caso é relacionar a imagem de quem divulga essas informações à defesa do meio ambiente, sem que de fato medidas sejam adotadas para isso.


Um bom exemplo a se ater é o da Braskem, empresa brasileira do ramo petroquímico que soube se aproveitar da brecha e conseguir seu selo ESG - estando presente, por exemplo, no Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE) da B3. Por um lado, a multinacional é a responsável pela produção do plástico verde dos frascos da Natura. Porém, por outro, é uma grande produtora do plástico convencional advindo do petróleo. Além disso, em 2018, a atividade de exploração da Braskem foi responsável pelo afundamento do solo de três bairros em Maceió, que rachou casas de mais de 30 mil pessoas. Por fim, a empresa possui como principal acionista a Novonor, antiga Odebrecht, empreiteira ligada a diversos crimes de corrupção ligados ao escândalo da Lava-Jato. Dessa maneira, torna-se evidente o caminho ainda longo a ser percorrido na busca por critérios de aprovação mais fiéis com a realidade.


Relevância do ESG ao redor do globo


Globalmente, mais de US$ 30 trilhões em ativos sob gestão (AuM, na sigla em inglês) são gerenciados por fundos focados em estratégias sustentáveis. No entanto, essa representatividade não se dá de forma homogênea nas diferentes regiões do mundo, dado os diferentes estágios de maturidade no que se refere à importância dos fatores ESG em cada lugar. Nesse sentido, tem-se o continente Europeu liderando essa corrida, com US$ 14,1 trilhões dos US$ 30 trilhões em ativos sustentáveis sob gestão no mundo, seguido pelos Estados Unidos, que, até o referido levantamento, possuíam a marca de US$ 11,95 trilhões. Já olhando para a representatividade de bolsas de valores ao redor do mundo que têm implementado ativamente a divulgação de parâmetros ESG como requisito para listagem de ações, observa-se ainda uma porcentagem pequena, de apenas 24%.



No contexto nacional, o tema ESG, apesar de vir apresentando certa evolução, ainda encontra-se retraído, tendo em vista que apenas ganhou força depois de muito ter sido discutido em outros países. No que se refere ao número de signatários do PRI - sigla de Principles for Responsible Investment, que representa o compromisso dos grandes investidores institucionais do mundo em investir em negócios sustentáveis -, o Brasil contava com 62 membros em 2020, e, na comparação de 2018 com 2019, demonstrou um crescimento de 33%. Ainda assim, o país representava apenas aproximadamente 2% do total de signatários do mundo, que já contava com mais de 3.000 membros globais - dentre os quais mais de 500 eram dos EUA.



Além disso, do total de 116,9 mil companhias acompanhadas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) na Pesquisa de Inovação (Pintec), apenas 4,8 mil publicaram relatórios de sustentabilidade no período de 2015 a 2017, o que corresponde a 4,1% do total. No que se refere à bolsa de valores, a B3 possui alguns mecanismos de incentivo de adoção às práticas ESG, como um conjunto de índices de sustentabilidade e de governança corporativa. Porém, em 2019, 127 dentre 426 companhias divulgavam informações relacionadas aos critérios ESG. Assim, apesar dos passos dados até aqui, ainda há um longo caminho a ser percorrido para que o Brasil se torne uma referência no quesito empresas classificadas com o critério ESG.


Olhar para o futuro


A verdade é que ESG é um caminho sem volta. O que antes talvez era visto como idealismo ou ambientalismo, agora interfere diretamente nos resultados de uma empresa, já que os consumidores e investidores estão cada vez mais atentos à sustentabilidade e interessados em conhecer os impactos de toda a cadeia de produção.


No fim, o importante é que isso deixe de ser uma questão de imagem e que as empresas passem mesmo a tratar seus pilares de sustentabilidade, responsabilidade social e governança com o mesmo afinco com o qual tratam seus balanços.


Glossário:


1. Plástico verde - polietileno de origem renovável e reciclável, produzido a partir do etanol da cana-de-açúcar.


2. B Lab - instituição independente e sem fins lucrativos que integra o Movimento B – comunidade global que deseja transformar a economia através de negócios mais inclusivos, equitativos e regenerativos.


3. Índice de ações - são utilizados como indicadores de desempenho das empresas.


4. S&P - Empresa de consultoria responsável pelo S&P 500, um dos principais índices do mercado financeiro mundial, que reúne ações das 500 maiores empresas dos Estaods Unidos.


5. MSCI - empresa financeira americana que atua como fornecedora global de ações, renda fixa, índices do mercado de ações de fundos de hedge, ferramentas de análise de portfólio de múltiplos ativos e produtos ESG. Responsável pelos índices MSCI BRIC, MSCI World e MSCI EAFE.


Bibliografia:


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