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Carros elétricos: a estrada para um futuro sustentável

Atualizado: 16 de jan. de 2022



72,6%. Essa é a porcentagem da emissão de Gases de Efeito Estufa (GEEs) referente apenas a carros e motos no município de São Paulo, segundo dados do Instituto de Energia e Meio Ambiente. Como agravante, a ONU afirma que o setor de transporte em geral é responsável por cerca de um quarto das emissões globais desses gases, número potencializado devido às fracas políticas de descarte de veículos velhos e pela falta de rigidez nos padrões de qualidade de automóveis, o que faz com que, muitas vezes, carros sem inspeção acabem emitindo ainda mais gases poluentes.


Nesse cenário de urgente mudança surge um debate maior acerca da necessidade de um modelo de automóvel alternativo: o carro elétrico. Visto por muitos como a solução para o combate ao efeito estufa decorrente da emissão de gases dos automóveis convencionais, os veículos elétricos estão em rápida ascensão global e configuram-se como um dos principais meios de locomoção do futuro. Com isso, diante dessa crescente na produção, cabe a pergunta: qual o limite da predominância dos veículos à combustão no mercado?


Dando partida


Curiosamente, o assunto “carros elétricos” é bem mais antigo do que aparenta. Os registros são datados desde 1828, na Hungria, onde um motor elétrico foi acoplado à miniatura de um carro. Desde então, o avanço da tecnologia proporcionou uma maior recorrência de veículos elétricos no mercado, sendo cada vez mais difundidos para o público em geral, principalmente devido à mudança de mentalidade da população a respeito de assuntos relacionados à sustentabilidade e, também, da descoberta de que o petróleo, apesar de suas grandes reservas pelo mundo afora, era finito e, em um futuro não muito distante, outros meios deveriam ser explorados para substituí-lo.


Sendo assim, foi na década de 1990 que surgiu o veículo EV1 da General Motors, o primeiro veículo elétrico contemporâneo voltado ao público. No entanto, o modelo custava cerca de R$ 140 mil, o que, comparado ao preço de R$ 12.700,00 de um Volkswagen Gol em 1994, ressalta a problemática ainda existente dos elevados custos desse tipo de automóvel. Porém, mesmo pesando no bolso de grande parte das pessoas, a fabricação desse tipo de carro se intensificou de forma massiva com os avanços tecnológicos, de modo que, em 2020, cerca de 370 modelos de carros elétricos estavam disponíveis no mercado, o que representa um aumento de 40% quando comparado ao ano de 2019, segundo a Agência Internacional de Energia (AIE).



Ademais, segundo projeções de analistas da IHS Market, se as vendas desse tipo de veículo aumentarem de forma gradual até 60% nos próximos 30 anos, cerca de 40% dos carros serão elétricos em 2050. No entanto, para que isso se concretize, as vendas de carros elétricos necessitam dobrar nos próximos 15 anos, o que configura-se como um cenário incerto, diante da necessidade de investimentos e estratégias voltadas ao estímulo para a compra desse tipo de carro, tais como subsídios governamentais.


Com isso, embora tal cenário possa ser inatingível no período de tempo em questão, os avanços visíveis na produção e difusão desse tipo de veículo são significativos e, cada aumento, ainda que pequeno, é impactante. Isso é claramente visível pelo avanço de modelos híbridos plug-in, que, por mais que ainda funcionem a base de combustível, já são bem mais sustentáveis do que os veículos tradicionais, diante da possibilidade de serem carregados na tomada e de consumirem energia elétrica, além da própria gasolina.



China a 200 km/h


Quando analisada a produção de veículos elétricos em âmbito global, o grande destaque é a China, que vem construindo fábricas desse tipo de automóvel quase tão rápido quanto o resto dos países do mundo em conjunto. Segundo estimativas da LMC Automotive, empresa global de dados do segmento, o país fabricará mais de 8 milhões de carros elétricos por ano até 2028, enquanto as projeções somente para o continente europeu são de 5,7 milhões até lá.


Diante de níveis preocupantes de poluição do ar e controle das principais reservas de cobalto - material essencial para a fabricação das baterias íon-lítio dos veículos elétricos -, o governo chinês formulou um lançamento nacional de mais de 800 mil estações públicas de carregamento desse tipo de veículo. Além disso, uma série de incentivos e subsídios governamentais para a compra desses carros foram estabelecidos, tais como o oferecimento de uma certa quantia para a compra de automóveis movidos a energia elétrica, de forma a estimular os indivíduos. Dessa forma, todos esses fatores facilitam ainda mais a adesão populacional, de forma que o gigante asiático espera emplacar 1,8 milhão de veículos elétricos apenas em 2021, um aumento de 500 mil quando comparado com o ano de 2020.


“Eles acham que vão vencer. Bem, eu tenho um recado: eles não vão ganhar”, afirma Joe Biden. A frase do presidente norte-americano acerca da preponderância chinesa no ramo de veículos elétricos evidencia a disputa da China com os Estados Unidos nesse mercado. Para não ficar para trás na corrida, Biden anunciou um plano de investimento de US$ 174 bilhões em abril de 2021, visando impulsionar a categoria de veículos elétricos e manter o país competitivo nesse segmento. A proposta, por sua vez, oferecerá incentivos fiscais nas compras desse veículo fabricado em solo estadunidense, contará subsídios para os estados e promete construir uma infraestrutura de carregamento ampla no país. No entanto, no panorama atual, não é possível negar a ampla vantagem chinesa na disputa pelo mercado de veículos elétricos.



Os sinais vermelhos


Embora note-se o evidente avanço na produção e utilização dos veículos elétricos, ainda existe uma série de entraves que impossibilitam o crescimento acelerado desse mercado. O Brasil, por exemplo, apresenta dificuldades em adquirir uma adesão massiva, apesar de ter registrado um aumento de 60% de carros elétricos em 2020 em relação a 2019, segundo dados da Associação Brasileira do Veículo Elétrico.


Dentre os desafios que mais pesam para a população está o alto custo das baterias íon-lítio que, dependendo do tipo de veículo, podem representar de 35% a 60% de seu valor total. No entanto, segundo estudos da Bloomberg Energy Finance, o preço caiu para quase um décimo do valor original de 2010 para 2019, chegando a um custo médio de US$ 156 / kWh ante US$ 808 / kWh em 2010. Assim, apesar do aumento da longevidade da duração da bateria de, em média, 10 anos, e a redução constante de seu preço, muitos indivíduos ainda estão relutantes quanto ao elevado gasto da bateria e do próprio carro e, diversas vezes, desconhecem a rentabilidade a longo prazo do veículo elétrico quando comparado ao veículo à combustão.



Fora o elevado custo das baterias, quando olha-se para o território nacional, a precária infraestrutura para esse modelo de veículo acaba por se tornar uma outra grande problemática para o setor. Segundo estudos da firma de consultoria Boston Consulting Group (BCG), para que seja possível atingir os níveis de penetração da frota de veículos elétricos parecidos com os da Europa até 2035, será necessário um investimento de R$ 14 bilhões só em pontos de recarga pelo governo brasileiro. Contudo, estruturar essa rede de recarga em um país com dimensões continentais não é o único entrave, uma vez que, segundo Henry Joseph Jr, presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), o governo muitas vezes acaba por lançar programas de forma pontual ao invés de focar em uma política de longo prazo para o estímulo aos veículos elétricos. Assim, a atenção é destinada cada vez a um aspecto diferente, o que resulta em uma série de planejamentos que não conversam entre si, haja vista o foco ora em biocombustíveis, ora em hidrogênio, ora em elétricos, dentre outros.


No entanto, mesmo que diversos problemas ainda dificultem essa realidade de disseminação dos carros elétricos, alguns pontos já vem sendo postos em pauta pelo governo para tornar essa questão mais urgente. Em São Paulo, por exemplo, os donos de carros elétricos passarão a receber uma devolução de IPVA na conta corrente ou em formato de desconto no IPTU. Além disso, há um Projeto de Lei (PL 3174/20) que propõe a isenção dos impostos PIS/Pasep e Cofins dos carros elétricos. Dessa maneira, ainda que de forma lenta quando comparado à China e Europa, o Brasil vem dando pequenos passos em direção a um futuro com cada vez mais veículos elétricos.


Rumo ao destino final


Portanto, é nesse cenário de avanço - ainda permeado de entraves - que se encontra o mercado de carros elétricos: crescente, sustentável e promissor. Diante da inerente migração para esse tipo de veículo em um futuro pautado cada vez mais na urgência pela redução da emissão de gases e pelo barateamento dos carros elétricos, diversos players do mercado já estão direcionando esforços para essa vertente. A fabricante mais proeminente do ramo, a chinesa BYD, que bateu a marca de um milhão de carros elétricos produzidos no mundo, já contou com investimentos de figuras como Warren Buffet, cuja empresa comprou uma participação de 10% na companhia há uma década.


Assim, devido à promessa do mercado, as próprias grandes montadoras tradicionais - como Renault, Nissan e Volkswagen - já estão atacando essa frente e vendendo tais veículos pesadamente. Porém, além das montadoras já consolidadas, diversas startups vem surgindo no setor, como a chinesa NIO - que garantiu uma posição de destaque por suas baterias retiráveis - e a americana Rivian, que estabeleceu uma parceria com a Amazon para o serviço de entregas Prime por meio de sua van elétrica.


Contudo, quando falamos de tecnologia e futuro, o grande destaque vai para a Tesla. De acordo com o 2020 Impact Report, relatório elaborado pela própria empresa, o Model 3, opção de carro elétrico mais barato da marca, já custa menos do que alguns concorrentes não-elétricos pertencentes à categoria premium, tais como BMW Serie 3 e Mercendes-Benz Classe C. Embora preços de veículos elétricos menores do que os de veículos a combustão ainda sejam raridade no mercado, o avanço da tecnologia e da produção desse tipo de carro pode indicar um futuro no qual esses veículos serão mais acessíveis para a população.


Portanto, com progressivos estímulos à produção de veículos elétricos e a urgência da diminuição dos GEEs, o mercado apresenta-se bastante aquecido, com previsão de taxa composta de crescimento anual (CAGR) de 33,94% de 2021 até 2027. No entanto, não há como saber se, de fato, 40% dos carros serão elétricos até 2050, mas, também, não há como negar o avanço e o direcionamento de esforços para a produção desse tipo de veículo. Assim, trata-se de uma estrada longa, repleta de sinais vermelhos que podem atrapalhar o fluxo, porém que, em última instância, ruma a um destino final bem mais sustentável do que o ponto de partida.


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