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Petróleo: de que forma essa commodity se comporta na economia global?



Além de servir como matéria-prima essencial para diversas atividades praticadas na atualidade, o petróleo desempenha um papel fundamental na economia global. Por se tratar de uma commodity1 relativamente escassa e de difícil acesso, cuja demanda vem crescendo com o passar dos anos, torna-se notório que a sua comercialização tem impacto significativo no cenário econômico mundial. Para ilustrar, somente no Brasil, o setor de óleo e gás movimentou, em 2020, 13% do PIB nacional, e a maior parte disso refere-se ao consumo da mercadoria. Nesse sentido, os detentores desse recurso exercem um alto poder de barganha sobre os consumidores, podendo, inclusive, promover alterações nos preços em função da quantidade ofertada, fato esse que levou a diversas crises geopolíticas ao longo da história.


Precificação do petróleo


Inicialmente, é importante compreender como funciona a precificação do petróleo. Por ser uma mercadoria comercializada internacionalmente, a negociação é feita em dólares por barril - no geral, um barril corresponde a, aproximadamente, 159 litros. A partir disso, o preço da commodity é estipulado por meio de uma negociação entre os que desejam comprar e os que buscam vender, de forma a encontrar um valor que ambas as partes estejam dispostas a firmar acordo - lei da oferta e demanda.


Além disso, não existe apenas um tipo de petróleo no mundo. As variantes podem se distinguir em função de algumas características, como o peso, local de extração, facilidade de refino, entre outras. Dessa forma, o Brent Crude Oil e o West Texas Intermediate (WTI) são os principais parâmetros de referência da mercadoria. Enquanto a primeira é referente ao petróleo Brent, extraído perto do Reino Unido, o WTI refere-se ao petróleo extraído em alguns estados dos EUA. Com isso, torna-se evidente que esses dois tipos de petróleo são os mais conhecidos mundialmente devido ao local de produção ser em países que exercem grande influência na economia global.


Por ter propriedades semelhantes com a maior parte do petróleo extraído ao redor do mundo, o Brent Crude Oil é utilizado como referência pela maioria das grandes empresas, inclusive pela Petrobras no Brasil. Sendo assim, ao planejar seus investimentos a longo prazo, essas companhias projetam cenários com base em preços futuros do Brent, tendo em vista que o valor pago pelos seus clientes sempre será próximo ao do óleo britânico.


Principais players no mercado de petróleo


Tendo em vista que o preço do petróleo é baseado na lei da oferta e demanda, é natural assumir que os países que possuem uma maior produção dessa commodity, como os Estados Unidos, tenham, teoricamente, uma vantagem econômica sobre os demais. Entretanto, é necessário fazer também uma análise acerca do consumo para definir essa hierarquia.





Com isso, por mais que os americanos sejam líderes na produção da mercadoria, grande parte é destinada ao consumo interno, e, ainda assim, a demanda não é atendida, gerando uma dependência por importações. Portanto, em função dessa necessidade de importar petróleo, o país frequentemente utilizou, ao longo da história, seu poderio econômico e militar para exercer influência e articular preços menores de compra.


Nessa conjuntura, buscando se desvencilhar das pressões exercidas pelos estadunidenses e garantir um maior controle dos preços de exportação, cinco países - Arábia Saudita, Kuwait, Irã, Iraque e Venezuela - fundaram a OPEP (Organização dos Países Exportadores de Petróleo) em 1960. Sua principal função consiste em administrar a exploração, produção e exportação da commodity nas nações integrantes, com o objetivo de alcançar uma maior lucratividade e relevância no mercado petrolífero. Logo, essa união se mostra muito favorável para que, em conjunto, esses países possam promover aumentos dos preços dos barris vendidos, por meio de reduções na quantidade produzida, visando a uma maximização do lucro.




Atualmente, a organização conta com 13 membros, que concentram praticamente um terço da produção e 80% das reservas mundiais de petróleo. Eles se encontram distribuídos majoritariamente em zonas marcadas por uma histórica influência externa e frequentes cenários de guerra. Com isso, em função de serem dominantes na oferta da commodity e possuírem interesses em comum, esses países podem se utilizar do petróleo como uma vantagem não somente econômica, mas também política.


Vale ressaltar que nem todos os principais exportadores fazem parte da organização, como é o caso da Rússia, que, a fim de ter uma maior autonomia nos processos de produção e exportação da commodity, recusou o convite para se tornar um país membro da organização.


Primeira crise do petróleo


Dessa forma, com o surgimento da OPEP, foi enfraquecida, a partir da década de 60, a influência dos Estados Unidos, assim como a de outros países europeus, sobre a produção de petróleo na África e no Oriente Médio. Em paralelo a isso, o contexto do Oriente Médio era marcado por conflitos entre israelenses e árabes, em função de fatores religiosos e geográficos. Como consequência do acirramento das tensões, a situação se tornou insustentável em 1973, resultando na Guerra do Yom Kippur2, na qual a nação judaica recebeu apoio dos norte-americanos por interesses geopolíticos.


Dessa maneira, percebendo que o petróleo era um forte instrumento de pressão econômica e política, a OPEP, com predomínio histórico de países árabes, aplicou um embargo sobre os Estados Unidos, fato esse que culminou na primeira grande crise global da commodity.





Em decorrência do embargo, houve uma explosão do preço médio do petróleo mundialmente, uma vez que esse cenário de incertezas e reduções de oferta levou a um crescimento forte da busca pela mercadoria, intensificando a elevação da cotação internacional.


As consequências da medida foram proveitosas para os membros da OPEP, que, apesar de terem sofrido uma pequena queda relativa na produção, observaram um aumento acelerado do preço. Sob outra perspectiva, esse salto no valor promoveu um impacto desastroso para a maioria dos países importadores, causando uma escassez do produto e um consequente incremento nas taxas de juros ao redor do mundo, como forma de frear a inflação. Em meio à crise, o Brasil apresentou um desequilíbrio em sua balança comercial, iniciando um ciclo de hiperinflação, que só se encerraria após, aproximadamente, 20 anos.


Segunda crise do petróleo


Com o fim da primeira crise, os preços do petróleo se estagnaram nos anos subsequentes, até que, em 1979, em função da Revolução Iraniana3, iniciou-se a segunda grande crise global da commodity. Apesar do conflito afetar apenas 9% da oferta global, um pânico tomou conta do mundo, afinal todos temiam o cenário de 1973 voltar a ser uma realidade. De modo a se precaver contra a situação, muitos buscaram ter uma reserva de emergência para proteção, aumentando a demanda significativamente e, por sua vez, os preços voltaram a disparar.


Em 1980, ainda sem ter a sua produção de petróleo recuperada, o Irã se envolveu em mais um conflito: a Guerra Irã-Iraque4, provocando um impacto econômico global similar ao ocorrido no ano anterior, porém com proporções ainda maiores, levando em conta que a produção da matéria-prima no Iraque também foi comprometida.




Como consequência, houve, novamente, uma disparada nos preços, causando inúmeros prejuízos para a maioria dos mercados globais, incluindo o Brasil. Contudo, dessa vez, os países membros da OPEP também sentiram o baque da crise. Isso ocorreu devido à perda de participação na produção mundial por parte da organização, mesmo em um cenário de alta de preços, em função do aumento da produção de outros países para reduzir a dependência da exportação em relação a integrantes da OPEP, impulsionando a competitividade do setor.


O petróleo durante a pandemia de COVID-19


Após o período das duas crises, o preço do petróleo continuou à mercê de diversos eventos geopolíticos, apresentando uma alta volatilidade. Como exemplo, em 2008, o preço médio desabou com a crise financeira e a recessão posterior, e, mais recentemente, a cotação disparou devido à guerra entre Rússia e Ucrânia, em função do receio de uma redução no fornecimento da mercadoria, uma vez que os russos são um dos principais exportadores.


O mercado de petróleo também foi profundamente afetado pela crise econômica decorrente da pandemia de COVID-19. Inicialmente, com a disseminação do vírus, a procura pela commodity despencou devido à redução de circulação das pessoas, resultando em uma menor demanda por combustíveis, e à insegurança das empresas de investir em derivados da mercadoria sem a certeza se seriam ou não aproveitados.


Dessa forma, o que se percebeu foi um efeito contrário ao vivenciado nas duas principais crises: houve uma queda acentuada no preço do petróleo, acarretando, inclusive, um inédito preço negativo da commodity. Ou seja, os operadores passaram a, literalmente, pagar para se livrar dos barris, pois estavam com data de validade próxima e não estavam sendo vendidos, comprometendo também a capacidade de armazenamento da mercadoria.


Mediante à redução brusca da demanda, os países petrolíferos enfrentaram uma queda considerável no valor das ações de suas respectivas bolsas de valores, pois os investidores sentiram-se inseguros pela repentina instabilidade do cenário e optaram por interromper seus investimentos no setor. No Brasil, a B3 registrou uma queda de mais de 10%, o que ativou o circuit-breaker5, assim como nos Estados Unidos, onde não se realizava tal procedimento há mais de 20 anos.





Futuro


Atualmente, o petróleo continua sendo uma matéria-prima essencial para diversas atividades econômicas, desde a geração de energia até a produção de artigos usados no cotidiano, como o plástico. Contudo, tendo em vista a forte dependência em relação aos países exportadores e a alta volatilidade dos preços em períodos de crise, muito vem sendo investido na busca por produtos que substituam a commodity.





Em relação à geração de energia, é perceptível que, aos poucos, o petróleo vem perdendo força como matéria-prima, dando espaço para outras fontes de mais fácil acesso e menor impacto ambiental, como é o caso do gás natural em escala global e da água e dos biocombustíveis no Brasil. Ainda para o setor energético, outras alternativas vêm sendo apresentadas para as mais diversas atividades, como é o caso do etanol no Brasil, que vem crescendo cada vez mais como um combustível concorrente à gasolina, um dos principais derivados do petróleo.


Entretanto, apesar da busca pela redução da dependência da mercadoria, a demanda continua crescente, o que pode ser explicado pelo crescimento populacional e também da economia de países em desenvolvimento, como China e México, que ainda não apresentam um mercado penetrado de energia e de consumo de produtos derivados do petróleo.





Dessa forma, torna-se evidente que há um esforço coletivo para reduzir a dependência pelo petróleo, por mais que ele ainda desempenhe um papel crucial para a sociedade, restando a nós o questionamento: até quando seremos dependentes dessa mercadoria?


Glossário:

1. Commodity: mercadorias em estado bruto ou pouco modificadas que são comercializadas em grandes volumes no mercado internacional.


2. Guerra de Yom Kippur: conflito militar durante o mês de outubro de 1973, resultado de uma coalizão de estados árabes contra Israel.


3. Revolução Iraniana: conflito no Irã que culminou na deposição do xá Reza Pahlevi, transformando o regime do país de uma monarquia autocrática pró-Ocidente para uma república islâmica teocrática, que teve como primeiro líder o aiatolá Ruhollah Khomeini.


4. Guerra Irã-Iraque: embate entre os dois países do Oriente Médio, entre 1980 e 1988, em função de questões políticas e religiosas, resultando em número aproximado de um milhão de mortes.


5. Circuit-Breaker: mecanismo de segurança implementado pela B3 - bolsa de valores brasileira - que consiste na paralisação das negociações por um período caso haja uma queda acentuada do seu principal índice, o Ibovespa.


Referências:


AZEVEDO, Alessandra. “Petróleo é Negociado Abaixo de Zero Pela Primeira Vez Na História.” Correio Braziliense, 20 Abr. 2020, https://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/economia/2020/04/20/internas_economia,846605/petroleo-e-negociado-abaixo-de-zero-pela-primeira-vez-na-historia.shtml. Acessado 19 Mar. 2023.


Como Foram as Crises Do Petróleo?” CBIE, 13 Mar. 2020, https://cbie.com.br/como-foram-as-crises-do-petroleo/. Acessado 21 Mar. 2023.


Investimentos, Equipe Toro. “Circuit Breaker Na Bolsa: Entenda O Que é E O Seu Histórico.” Blog Toro Investimentos, 3 Fev. 2023, https://blog.toroinvestimentos.com.br/bolsa/circuit-breaker. Acessado 22 Mar. 2023.


LAFRATTA, Camila. “Por Que O Preço Do Petróleo Impacta Tanto a Economia?Nubank, 11 Mar. 2020, https://blog.nubank.com.br/petroleo-bolsa/. Acessado 21 Mar. 2023.


OLIVEIRA, Pedro Igor, and Karina BROTHERHOOD. “Criação Da Organização Dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) – 14 de Setembro de 1960» Relações Exteriores.Relações Exteriores, 14 Set. 2021, https://relacoesexteriores.com.br/criacao-opep-14-setembro-1960/#:~:text=A%20Cria%C3%A7%C3%A3o%20da%20OPEP%20em%201960&text=Essa%20manobra%20dos%20Estados%20Unidos. Acessado 22 Mar. 2023.


Quais Fatores Influenciam O Preço Do Petróleo?Gazeta Do Povo, 9 Ago. 2022, https://www.gazetadopovo.com.br/conteudo-publicitario/grupo-potencial/quais-fatores-influenciam-o-preco-do-petroleo/#:~:text=Apesar%20de%20grande%20parte%20da. Acessado 20 Mar. 2023.


REIS, Tiago. “Cotação Do Petróleo: Entenda Como Funciona O Preço Dessa Commodity.Suno, 20 Ago. 2018, https://www.suno.com.br/artigos/cotacao-do-petroleo/. Acessado 20 Mar. 2023.

VERSIGNASSI, Alexandre. “Petróleo: Qual a Diferença entre Brent E WTI?VOCÊ S/A, 7 Ago. 2020, https://vocesa.abril.com.br/dinheiro/petroleo-qual-a-diferenca-entre-brent-e-wti/. Acessado 22 Mar. 2023.


ZANATTA, Pedro. “Demanda Por Petróleo Crescerá Até 2030, Avalia Especialista.CNN Brasil, 4 Mar. 2022, https://www.cnnbrasil.com.br/internacional/demanda-por-petroleo-crescera-ate-2030-avalia-especialista/. Acessado 30 Mar. 2023.





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